A transformação digital nas empresas, acelerada pela pandemia, vem provocando profundas mudanças na área de infraestrutura e operações (I&O). Com a inovação baseada em tecnologia ocupando cada vez mais espaço nos negócios e as elevadas expectativas dos clientes em relação à confiabilidade dos serviços, a área ganhou visibilidade e importância estratégica. Como consequência, o líder de I&O também passou a ter novas demandas e responsabilidades nas empresas.
A velocidade da transformação digital é o motor de tudo isso. Estima-se que até o final deste ano, 65% do PIB mundial já estará digitalizado. Só no Brasil, foram investidos, em 2021, US$ 45,7 bilhões em tecnologia, e a expectativa é de que o valor supere os US$ 50 bilhões este ano. Em todo o mundo, o total investido no ano passado foi de US$ 2,79 trilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). E o ritmo das transformações ainda deve aumentar nos próximos anos.
Dentro desse universo, IoT é vista como uma das tecnologias mais promissoras, e nas quais a atuação de profissionais de I&O será mais relevante. Isso porque, segundo estudo da Gartner, os projetos de IoT mais bem sucedidos combinam equipes de I&O, de linhas de negócios e operações, em um esforço multidisciplinar para atender demandas dos clientes. Dentro dessa estrutura, cabe à área de I&O oferecer suporte em integração, comunicação, análise e a infraestrutura subjacente.
Globalmente, 80% das principais organizações de I&O já estão desenvolvendo estratégias de I&O para negócios digitais envolvendo inteligência artificial (IA) e IoT, diz Sanjit Ganguli, vice-presidente e analista da Gartner.
Localmente, no Brasil, os investimentos em IoT de empresas brasileiras deve aumentar 17,6% neste ano, na comparação com 2021, e chegar a US$ 1,6 bilhão. E a tendência é de crescimento com a chegada do 5G, que chega como mais uma alternativa de conectividade e abre novas possibilidades de aplicação em diversas áreas. Entre elas, a da saúde, a de veículos autônomos e na agricultura.
I&O na liderança
É um cenário promissor e cheio de oportunidades, mas que também apresenta desafios para os profissionais de I&O. Na era digital moderna, o executivo de I&O deve ter um papel mais de líder indutor do que de simples gestor, avalia o analista diretor sênior da Gartner, DD Mishra. A ideia é que esse profissional trabalhe em colaboração estreita com a área de negócios. Entendendo, assim, a popularidade, a capacidade de resposta da empresa e as falhas dos serviços, afirma Will McKeon-White, analista da Forrester.
No entanto, para isso, são necessárias algumas habilidades específicas que permitirão ao profissional de I&O adequar a empresa às tendências de mercado emergentes.
“O foco dos líderes de I&O não é mais apenas entregar engenharia e operações, mas sim entregar produtos e serviços que suportam e viabilizam a estratégia de negócios de uma organização”, afirma Ross Winser, analista sênior da Gartner.
O cliente no centro de tudo
Atualmente, segundo a Gartner, há três principais tendências impactando diretamente as lideranças de I&O. A primeira delas é a supremacia da geração de valor para o cliente final sobre a confiabilidade da infraestrutura. De acordo com a consultoria, isso não quer dizer que a confiabilidade possa ser negligenciada. Significa apenas que a infraestrutura deve ser pensada dentro da lógica de atender às necessidades do usuário final do produto.
A mudança de foco da infraestrutura para o cliente é o que impulsiona a segunda tendência. Segundo a Gartner, é cada vez mais comum CIOs contratarem para liderar equipes de I&O profissionais sem experiência na área. Entre 2018 e 2020, 43% dos executivos escolhidos para ocupar a função vinham de outras carreiras. A maioria tinha experiência em desenvolvimento de aplicações, segurança da informação ou linhas de negócio com foco no consumidor e visão corporativa, afirma o estudo.
O novo líder de I&O em IoT
As novas habilidades demandadas se refletem em anúncios de vagas de I&O. Muitos deles, atualmente, pedem candidatos com experiência em automação e DevOps. Por isso, Gartner recomenda que líderes da área invistam em habilidades que suportem “formas de trabalho interativas e focadas no cliente final. Como, por exemplo, DevOps, gerenciamento de produtos e métodos ágeis”.
No campo comportamental, ganham destaque capacidade de colaborar, adaptabilidade, pensamento crítico e sistêmico, gestão de stakeholders e conhecimento de negócios. Até um nível que permita ao executivo conduzir, de ponta a ponta, iniciativas de IoT, da justificativa do negócio à operação, passando pelas decisões técnicas e a implementação.
Dentro dessa nova realidade de mercado, o objetivo dos profissionais de I&O, segundo a Gartner, deve ser sempre avaliar os programas e as iniciativas de IoT em andamento na empresa e o papel que poderiam desempenhar neles. Em seguida, identificar as áreas em que podem garantir para si maior propriedade estratégica dentro do negócio.
“Projetos de IoT, em especial, são um espaço em que os líderes de I&O podem testar suas novas estratégias e provar seu valor para os negócios”, diz Sanjit Ganguli, da Gartner.
Quem não fizer isso, e ignorar a inovação liderada por infraestrutura, corre o risco de ter as opções de trabalho reduzidas a dar suporte a sistemas legados. É o que deve acontecer, segundo a Gartner, com 70% dos profissionais da área que não se atualizarem até 2025.