A adoção da Internet das Coisas (IoT), que ganha impulso com o avanço da qualidade em infraestrutura de telecomunicações e a Inteligência Artificial (IA), está mudando processos produtivos e modelos de negócios em cadeias econômicas inteiras. O grande motor por trás desse movimento é o impacto em produtividade, redução de custos e, paralelamente, ganhos para o meio-ambiente e a governança das empresas.
Estudo da McKinsey, intitulado The Internet of Things: Catching up to an accelerating opportunity, calculou que o valor econômico que a IoT poderá atingir até 2030 é de entre US$ 5,5 trilhões e US$ 12,6 trilhões. A cifra representa um crescimento de pelo menos duas vezes e meia o US$ 1,6 trilhão, estimado em 2020. O levantamento também aponta algumas das atividades e infraestruturas sofrerão mais influência do IoT nos próximos anos: fábricas, escritórios, fazendas, residências, cidades inteligentes, comércio, hospitais e veículos.
A forma como o uso de sensores inteligentes atua entre diferentes produtos e serviços – o que explica porque 65% do valor estará concentrado no mercado B2B até 2030, mas a IoT passará a fazer parte do dia a dia das pessoas – está provocando enorme efeito na economia global. A China sozinha deverá concentrar 25% do valor agregado pela Internet das Coisas, mas grandes produtores de commodities como o Brasil também estão na rota de investimentos na tecnologia.
Veja a seguir quais serão os setores mais impactados pelo IoT nos próximos anos e de que forma se dará o impacto:
Indústria 4.0
Pioneiro no estudo e investimento em soluções de IoT, o setor industrial concentra 25% dos investimentos na tecnologia no mundo, de acordo com informe de 2021 da Farnell, relativo a mais de duas mil empresas em todo o mundo. Mais maduro, o conceito de Indústria 4.0 também se consolida no mercado a nível global. Pesquisa realizada em agosto de 2022 avaliou o estágio tecnológico de 500 grandes empresas nos setores de manufatura mais relevantes. A maioria (65%) já concluiu ou está em conclusão de sua infraestrutura de IoT, enquanto 30% seguem em estágio de desenvolvimento. Somente 5% admitem não ter nenhuma estratégia para digitalização.
Benefícios:
- Redução de custos
- Eficiência energética
- Aumento da produtividade
- Redução de erro humano e risco de acidentes
- Aumento da vida útil de equipamentos
Agricultura de precisão
Setor de especial interesse da América do Sul, a chamada agricultura de precisão demanda o uso intensivo de soluções de IoT e é vista como a alternativa para garantir a segurança alimentar do planeta, que atingirá pico populacional de 9,7 bilhões de pessoas em 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). O interesse dos produtores em melhoria do processo produtivo está trazendo enormes volumes de capital em tecnologia ao campo. Projeção da Verified Market Research aponta que os investimentos em IoT na agricultura mais do que dobrarão no mundo, de 2019 até 2027, passando de US$ 12,32 bilhões para US$ 26,93 bilhões.
Aplicações:
- Automação de estufas e fazendas verticais
- Análise preditiva com dados combinados (clima, solo, fertilização e outros)
- Uso de drones de monitoramento
- Previsão climática
- Redução de consumo de água e energia
- Controle inteligente de pragas
- Gestão de suprimentos e cadeia produtiva
- Rastreamento de gado e georreferenciamento
Saúde e medicina
Dada a sua capilaridade e participação no Produto Interno Bruto dos países, assim como o peso nos orçamentos públicos e o tamanho do mercado privado, o setor de saúde promete concentrar vultosos investimentos na próxima década. Cálculo da consultoria The Brainy Insights estima que os investimentos globais de IoT em saúde saltarão de US$ 173 bilhões, em 2022, para US$ 970 bilhões, em 2032. Tal volume se explica pela ampla gama de recursos e benefícios que a internet das coisas oferece ao sistema hospitalar e à atenção ao paciente.
Funcionalidades:
- Monitoramento remoto de pacientes
- Telemedicina
- Sensores corporais integrados
- Controle de supply-chain hospitalar
- Integração de sistemas de atendimento e prontuários de pacientes
- Redução de desperdício de insumos e energia
- Interoperabilidade de equipamentos e sistemas de gestão de saúde
Transporte e logística
A corrida pela transição energética e automóveis auto-guiados está revolucionando a indústria automotiva e a infraestrutura de transportes. Até 2025, de acordo com a Biz Intellia, esse esforço atrairá investimentos da ordem de US$ 471 bilhões em IoT para o setor, com a estimativa de que 88% de todos os veículos produzidos no mundo contarão com recursos de telemática e conectividade.
Avanços:
- Eficiência de consumo energético
- Redução da emissão de CO2
- Aumento da segurança
- Manutenção preventiva e maior durabilidade de peças
- Gestão eficiente da logística integrada
- Redução de custos na linha de produção
Varejo
Um dos setores mais impactados pela aceleração tecnológica durante a pandemia de Covid-19, o varejo segue entre as atividades que mais se beneficiarão da internet das coisas como ferramenta para ganho de eficiência e redução de custos, em benefício da experiência do consumidor. O valor de mercado de IoT destinado ao varejo deverá crescer uma média de 20%, chegando a US$ 177,90 bilhões, segundo projeção da Research and Markets. Os benefícios diretos, de acordo com análise da consultoria de tecnologia itransition, alcançam 10 áreas importantes do negócio.
Utilizações
- Checkout Automático
- Marketing personalizado
- Monitoramento de recursos humanos
- Controle de Estoque
- Otimização do layout de lojas
- Gestão eficiente de energia no ponto-de-venda
- Rastreamento de produtos
- Monitoramento do consumo de insumos
- Otimização da cadeia de suprimentos
- Monitoramento crítico cadeia de produtos refrigerados e sensíveis
A adoção em escala do IoT traz, contudo, pontos de atenção. Conforme destaca o relatório de 2021 da Farnell com 2.095 empresas no mundo, a maior preocupação dos gestores (36%) diz respeito à segurança de dados, seguidas de problemas de conectividade entre sistemas e equipamentos (27%).
Mas, apesar dos imensos desafios técnicos à vista, a IoT continuará na linha de frente da transformação tecnológica nos próximos anos, demandando uma infraestrutura de TI cada vez mais robusta e sustentável e contribuindo para a redução de ineficiências no consumo de recursos estratégicos, como água e energia, em benefício de um modelo econômico global mais sustentável.