Novas dinâmicas, novos movimentos

Como vamos nos locomover nos centros urbanos depois da pandemia?

Novas dinâmicas, novos movimentos

Cidades e centros urbanos têm sido, ao longo da História, o núcleo de pandemias e crises sanitárias. Mas também são, indiscutivelmente, o epicentro da criatividade e da inovação. Se a pandemia do coronavírus pode alterar a vida nas cidades, é também nelas que se encontram as respostas para uma **nova dinâmica de trabalho, de deslocamento, de relações comerciais e sociais.**

**Como as cidades vão se adaptar a essa nova realidade?** É uma circunstância sem precedentes, que vai exigir um esforço coletivo na busca de saídas criativas. Elas existem – e certamente passam pela tecnologia para serem executadas. **A tecnologia é instrumental para a análise, embasada em informações, dos novos modelos de mobilidade urbana pós-pandemia.**

Algumas metrópoles pelo mundo já começam a apresentar alternativas para a nova realidade. **Uma das necessidades mais evidentes é a do distanciamento físico – basicamente, o oposto da premissa em que cidades são construídas e se desenvolvem.** Não se sabe se esse tipo de iniciativa vai se manter, mas o planejamento urbano deve incorporar algumas dessas preocupações daqui em diante, como alargar calçadas, por exemplo.

Adaptações no transporte público

**A mudança na forma como as pessoas se deslocam nas cidades deve ser uma das mais profundas.** Primeiramente, porque até mesmo a utilidade de se locomover está sendo colocada em xeque. Como se devem evitar aglomerações e meios de transporte com grandes concentrações de pessoas, e o home office tem se mostrado uma alternativa viável para muitas atividades, a tendência é que algumas empresas distribuam suas operações físicas em unidades menores, facilitando o acesso de seus colaboradores.

Com isso, o transporte público é um dos setores em que a adaptação se faz mais urgente. **O volume de gente a ser transportada já caiu drasticamente.** Carros parecem ser a resposta pronta. Mas o custo ambiental e de saúde pública da poluição que eles descarregam no ar, como sabemos, é impraticável no médio e longo prazo.

Nesse sentido, **a diminuição nos níveis de emissão de poluentes tem sido um dos efeitos mais benéficos do isolamento** a que muitos estão submetidos. Duas semanas depois do lockdown ser anunciado no Reino Unido, a poluição por dióxido de nitrogênio em algumas cidades caiu 60% se comparado ao mesmo período de 2019. A Nasa revelou que em Nova York e outras regiões metropolitanas dos Estados Unidos a poluição por dióxido de nitrogênio foi 30% menor do que a média mensal entre 2015 e 2019.

De volta para o futuro

Esse é um resultado que se deseja manter. Um modal que se apresenta como solução pronta é a bicicleta. Com ruas fechadas para o tráfego de veículos e distâncias mais curtas, parece natural que o transporte evolua para modais individuais e pouco poluentes. **A bicicleta se revela como alternativa viável, barata e acessível.**

Mesmo um modo de transporte tão antigo quanto à bicicleta vem sendo transformado pelo avanço tecnológico. A bicicleta de hoje pode ser elétrica, compartilhada com outras pessoas, com pneus que não furam e rastreada por GPS, se tornando mais uma fonte de dados de mobilidade urbana. **Não se redesenha a maneira de milhões de habitantes se locomoverem sem a análise desse enorme compilado de dados, coletados e processados com inteligência.** Identificar onde estão os nós viários, os fluxos de força de trabalho, onde montar novas ciclovias, para onde desviar ônibus e rotas de avião, tudo isso demanda um alto nível de compreensão do comportamento de sistemas muito complexos. **É um imenso desafio para todas as cidades do mundo, para as empresas de tecnologia, para os governos e os cidadãos.** E ele só será superado se pensarmos e trabalharmos juntos, com inteligência.

**Roberto Speycis**

*Co-fundador e CEO da Scipopulis, empresa de inovação em cidades inteligentes e dedicada a mobilidade urbana, e doutor em Ciência da Computação pela Universidade Pierre et Marie Curie – Paris VI – Sorbonne Universités.*