A recente Cúpula do Clima convocada pelos Estados Unidos no final de abril, cobrou das grandes potências econômicas mundiais ações mais efetivas nas próximas três décadas visando a redução real das emissões de gases do efeito estufa (GEE), com o objetivo de controlar o aquecimento global em 1,5ºC até 2050.
Em meio a discursos, promessas e anúncios importantes, o evento deixou um alerta bastante claro: **é preciso acelerar a transformação sustentável dos processos produtivos, da matriz energética dos países e do próprio modo de vida da sociedade,** para que se viabilize o equilíbrio entre a existência humana e a preservação do planeta.
O assunto é a agenda prioritária mundial deste século no pós-pandemia e envolve todos os setores da economia: de fabricantes de carros a produtores agrícolas; da indústria têxtil aos gigantes da internet. Mexe, sobretudo, com o setor energético, cuja reinvenção é crucial para o sucesso de uma missão que coloca todas empresas sob a mesma bandeira: a da longevidade econômica.
[**Leia mais em:** A transformação digital da indústria de óleo e gás](https://bit.ly/3kORgM5)Em linhas gerais, a combinação de **produtividade com baixo impacto ambiental, o controle mais rigoroso sobre o consumo de recursos naturais e a inauguração de um novo jeito de viver das pessoas** deve contribuir na diminuição dos efeitos das mudanças climáticas que estão porvir.
Trata-se, portanto, de uma **corrida contra o relógio ambiental** cujos ponteiros não podem ser simplesmente parados. É possível, no entanto, que se desacelere o ritmo e se diminua o impacto dos acontecimentos. Para isso, é fundamental se criar uma **consciência situacional antecipada,** que permita a tomada de decisão de forma mais assertiva para a implantação de **estratégias inteligentes e ágeis de mitigação.** Neste contexto, um dos agentes mais habilitados a colaborar com governantes, empresas e sociedade é a tecnologia.
Quantidade x Eficiência
Foi ainda no século 19, quando a Revolução Industrial transformou o jeito de viver da Humanidade com a invenção de máquinas que permitiam fabricar produtos em quantidade e velocidade jamais vistos anteriormente, que a tecnologia da época mostrou o seu poder de antecipar o tempo. Agora, 200 anos depois, este mesmo propósito deve ser colocado para a reinvenção não apenas da indústria, mas também da agropecuária. A necessidade atual não é apenas produzir mais, mas produzir melhor: buscar formas de **incrementar a produção consumindo menos recursos físicos e financeiros.** Em resumo, é hora de se investir em **eficiência.**
Ser mais eficiente no campo, nas fábricas, no setor de serviços, no planejamento das cidades e, sobretudo, na geração de energia para impulsionar os setores econômicos do futuro. Essa busca é também uma necessidade de sobrevivência para as empresas. Na economia moderna que se pretende construir desde já, **para um negócio ser rentável ele, antes de mais nada, precisará ser sustentável.** Uma visão que vai gerar benefícios diretos não apenas à preservação da natureza e à qualidade de vida das pessoas, mas também aos caixas das companhias.
Portanto, **sustentabilidade e rentabilidade** podem, sim, caminhar juntas na elaboração de políticas econômicas. A confirmação desta tese veio com o anúncio feito pelo presidente norte-americano Joe Biden durante a Cúpula do Clima: um investimento de US$ 2 trilhões em infraestrutura e ações para **reduzir pela metade as emissões de GEE** do país em nove anos e alcançar a total neutralidade de carbono até 2050.
O ambicioso pacote americano teve uma simbologia econômica extraordinária, por se tratar de uma potência da envergadura dos Estados Unidos, donos de mais de 1/3 do mercado financeiro e de quase 25% do PIB mundial. Para além da recuperação ambiental, espera-se a geração de milhares de empregos e de oportunidades de negócios. Mais além, liderar este debate hoje tem como pano de fundo o desejo pelo protagonismo absoluto deste que será o novo eixo da economia global do futuro.
Visão empresarial
Fenômeno semelhante já pode ser visto no setor privado, onde a preocupação socioambiental vem assumindo lugar de destaque nas mesas dos grandes negócios. A manifestação mais emblemática a esse respeito aconteceu no ano passado, quando Larry Fink, CEO da maior gestora global de ativos, a BlackRock – com uma carteira de US$ 8,6 trilhões (2020) –, distribuiu uma carta aos clientes colocando a sustentabilidade como um novo fator determinante para novos investimentos.
No texto, incensado pelo mundo corporativo, Fink alerta sobre como o risco climático tem forçado investidores a repensarem os seus postupostos básicos a respeito das finanças modernas. O impacto do clima nas economias dos países elevou substancialmente a sensibilidade dos mercados, o que trouxe a necessidade – segundo o gestor – de se redirecionar os investimentos para portfólios mais seguros e, sobretudo, mais sustentáveis.
A carta reforça ainda o papel das empresas e investidores na agenda emergencial do clima, colaborando no financiamento da infraestrutura das cidades para ajudar a mitigar o efeito das mudanças climáticas.
De volta à mesa das companhias, três letras são cada vez mais ouvidas nas reuniões de board e conselhos diretivos: ESG. Em inglês, a sigla significa “Enviroment, Social and Governance” e representa o índice que mede o firme propósito das empresas alinhadas com a agenda sustentável em dar mais transparência às suas ações.
Adotar o ESG cria valor para o negócio, amplifica a relevância da empresa no mercado, melhora a sua reputação e a torna mais atraente para investimentos – sejam eles diretos ou via “fundos verdes”, cujo volume de ativos movimentados têm crescido exponencialmente nos últimos anos.
O fato é que investidores não têm aceitado mais colocar seus aportes em papéis ou projetos pensando apenas na rentabilidade. Nada que deteriore o meio ambiente, a sociedade e a transparência na governança vale um centavo a mais na conta. Aplicar em *green bonds* (títulos verdes), então, é a estratégia de quem quer aliar resultado financeiro e consciência tranquila no final do dia.
O Brasil no contexto
Amazônia. Quando se pensa em qual será o papel do Brasil no debate do clima, logo vem à mente o combate ao desflorestamento de uma das mais importantes coberturas vegetais do planeta. Segundo o cientista de Sistemas da Terra, Michael Coe, que dirige o programa da Amazônia no Woods Hole Research Center em Massachussetts (EUA), a importância da floresta – além de sua biodiversidade – reside no fato de que ela funciona com um dos maiores e mais potentes resfriadores do planeta, atuando diretamente no regime de chuvas que impacta no clima de diversas regiões distantes dali. Assim, a Amazônia é como um imenso “ar condicionado”, ainda mais fundamental neste momento de busca pelo controle do aquecimento global.
Entretanto, dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 2020 mostram um aumento de 34,5% no número de registros de alertas de desmatamento da Amazônia em relação ao ano anterior. O instituto aponta também que 17% de todo o bioma já foi degradado.
Como as emissões de GEE do Brasil estão diretamente ligadas à questão do desmatamento, espera-se que o País registre um aumento de 10% a 20% no nível de emissões de 2020 em relação ao ano anterior, conforme estimativa do Observatório do Clima.
Neste contexto, o Brasil segue no centro das atenções da comunidade internacional. Espera-se do País – governo, empresas e sociedade – uma postura pró-ativa e comprometida com a agenda ambiental. Afinal, em um mundo globalizado sobretudo pela questão do meio ambiente, a participação efetiva de todos os agentes é o caminho para a estabilidade econômica e social não só do Brasil, mas de outros países também.
Tudo está conectado
O que o Brasil fará em termos de proteção às suas florestas interessa, sim, a todo o planeta. No caso das queimadas na Amazônia, por exemplo, sua continuidade levará a uma alteração do regime de chuvas em diversas regiões da América Latina. O impacto será sentido na temperatura média do continente, na sobrevivência de espécies da fauna e da flora, e no volume da produção de alimentos.
Essa cadeia de eventos inter-relacionados é explicada, em parte, pela chamada “Teoria do Caos”, onde condições instáveis aplicadas no início do processo podem levar a resultados inesperados e, muitas vezes, catastróficos, ao final. A tese, aliás, surgiu a partir de um modelo matemático não linear criado pelo cientista americano Edward Norton Lorenz em 1955. Funcionário do laboratório de meteorologia do MIT, Lorenz buscava gerar previsões do tempo mais próximas da realidade, compreendendo que pequenos eventos no início da cadeia podem se transformar em situações muito maiores ao final. O que ele não poderia imaginar é que o seu cálculo serviria, décadas depois, como base do argumento que defende a noção de interconectividade – e de responsabilidade – entre as nações do século 21.
Com a pandemia da Covid, a população mundial vem experimentando um exemplo cristalino deste fenômeno da imprevisibilidade na cadeia de eventos. A origem da doença, ainda não confirmada, teria sido em Wuhan, no interior da China, e bastaram poucas semanas para que ela se disseminasse mundo afora. Acontecimentos assim dão suporte à percepção de que todos os países habitam a mesma “casa” e precisam cuidar bem de seus ‘jardins e quintais’ para que possam continuar a morar juntos, com qualidade e segurança.
Tecnologia: agente da transformação
Entretanto, não há tempo para que essa mudança de conduta aconteça em ritmo normal. O caráter de emergência imposto pela pauta do meio ambiente exige ações imediatas e concretas, com a participação intensa de governos, empresas e sociedade. Neste sentido, é necessário incluir no processo **o único aliado capaz de acompanhar a velocidade da marcha do acontecimentos deste turbulento calendário climático** que se avizinha: a tecnologia.
Cabe a ela o papel de vetor da transformação, que mudará a relação das pessoas com o trabalho, com as cidades, com a natureza e fazer confrontar a nossa própria maneira de viver.
A **indústria 4.0** e a **agricultura de precisão** já utilizam novas tecnologias como o IoT, inteligência artificial, *machine learning, edge computing* e 5G, por exemplo, na busca por mais eficiência de seus processos produtivos. O chão de fábrica há muito tempo foi robotizado, com máquinas inteligentes cuidando de linhas inteiras de produção. No campo, colheitadeiras trabalham orientadas por GPS, drones monitoram rebanhos e sensores no solo indicam o melhor momento de plantar e de colher. O agronegócio compreendeu que, com o apoio da tecnologia, é possível obter mais e melhores safras consumindo muito menos recursos naturais e agredindo menos o meio ambiente.
[**Leia mais em:** Tecnologia: a chave para o agronegócio sustentável](https://bit.ly/2TBaRmm)Mesmo a **indústria de óleo e gás** tem buscado na inovação tecnológica um caminho de reinvenção. Além da parte operacional, a gestão dos campos e plataformas de extração a partir da análise e do processamento de dados potencializou a performance das empresas do setor.
Ainda no campo energético, a geração de energia limpa, oriunda de fontes renováveis, é outro ponto onde a tecnologia tem papel central. Seja de origem éolica, solar ou hídrica, essa produção precisa de recursos de armazenamento e distribuição cada vez mais modernos e eficientes. Coletores térmicos, células de combustível, baterias, carregadores e smart grids dependem de alta tecnologia para garantir o acesso à essa energia verde. Sob o ponto de vista da produção em si, diversos países têm despontado nos últimos anos como cases na exploração e uso das fontes renováveis. O Brasil é um deles.
O País já conta com a sua matriz energética ancorada nas hidrelétricas: 63% da eletricidade consumida em território nacional vêm deste tipo de fonte. Há ainda uma enorme capacidade ociosa para a geração de energia eólica e solar, com 2.200 horas de incidência de luz solar por ano – situações que podem elevar o Brasil à condição de potência global de energia limpa no futuro.
Em resumo, tecnologia é a carta na manga da sociedade moderna para atender a agenda climática e acelerar a transformação sustentável dos negócios, da gestão pública e dos hábitos de consumo. Um futuro com eficiência energética a partir de fontes geradoras limpas, produção industrial e agropecuária alinhadas aos limites da natureza, consumo consciente das pessoas e cidades mais inteligentes para se morar.