Smart Cities e a Indústria de TI – Episódio 15

A relação entre cidades inteligentes e a aplicação de tecnologia, com análise de impacto e gestão mais inteligente das cidades, na busca por suportar o crescimento urbano das próximas décadas.

Smart Cities e a Indústria de TI – Episódio 15

Como a tecnologia bem aplicada pode ajudar na administração do fluxo de pessoas nas áreas urbanas, na inteligência para a gestão pública e na melhoria da qualidade de vida das chamadas cidades inteligentes. Este é o tema do episódio 15 do podcast greenTALKS, com Carlos Morard, Diretor Internacional de Desenvolvimento de Negócios da green4T. Acompanhe.

Fabiano Mazzei: Olá, seja muito bem vindo, seja muito bem vinda a mais um episódio do podcast greenTALKS. Este conteúdo está disponível nos nossos canais no Spotify, no YouTube, mídias sociais e também em nosso blog Insights.

O tema deste podcast é “Smart Cities e a Indústria de TI”, onde vamos falar sobre a relação entre esses dois setores, sobre os drivers e as questões fundamentais que estão influenciando ambas as indústrias, sobretudo neste momento pós-pandemia, e o que as cidades precisam priorizar para estarem inseridas neste novo contexto.

Para esta conversa, convidamos Carlos Morard que é Diretor Internacional de Desenvolvimento de Negócios da green4T. Ele está em Madrid, fala direto da Espanha, e de lá cuida de toda a nossa atuação na Europa, Norte da África e Ásia. Carlos, muito obrigado por aceitar o convite e por estar aqui conosco para conversar sobre este tema tão interessante.

Carlos Morard: Obrigado você pelo convite. E vamos lá.

Fabiano: Muito bem, vamos complementar então o nosso início de conversa. Falar um pouco sobre smart city e a noção que muita gente tem de que isso é um evento tecnológico, quando na verdade vai muito além disso. Eu gostaria de ouvir o seu comentário a esse respeito.

Carlos: Sim. Obviamente associar a palavra “smart” remete a tecnologia e claramente à capacidade que a tecnologia tem para acelerar o processo de coleta de dados, análise de dados, de interconexão de dispositivos e pessoas. Tudo isso é super relevante e talvez seja a parte mais charmosa de tudo. Mas, por trás disso, temos um fenômeno humano que é fundamental e como já coloquei no início, é um fenômeno de urbanização, como nunca vimos na história da humanidade, em grandes dimensões.

Por isso que Smart City tem três vetores fundamentais que compõem a abordagem a essa ilustre disciplina. O primeiro é atender a administração desse fluxo urbano para a cidades, onde os países emergentes têm 80% desse crescimento acelerando muito. A segunda questão desse processo de urbanização é a inteligência, que é como a tecnologia bem aplicada pode facilitar a vida dessas pessoas nas cidades – depois vamos abrir um parênteses para detalhar melhor isso. E a terceira questão é o impacto real, como alcançar o accountability (medição) deste impacto para entender se esse fenômeno é controlável e virtuoso, se tem riscos ou simplesmente é um processo que vai trazer no futuro mais prejuízos que benefícios ou mais benefícios que riscos. Então, crescimento urbano, inteligência para a gestão e a medição real do impacto são os três pontos chaves que compõem o big picture das smart cities.

Fabiano: Entendi. Bem, ouvindo você mencionar estes três pontos, a gente pode entender que, nesse contexto de Covid, eles foram impactados também? Quais foram os drivers que precisaram passar por ajustes mais profundos com relação a esse contexto de pandemia?

Carlos: Olha, a pandemia acho que, no contexto da evolução da indústria – e vamos deixar de lado o grande impacto humano – foi um grande alerta antecipado para voltar alguns passos para trás e entender que smart city tem que primeiro criar conceitos e infraestruturas básicas para não gerar uma concentração humana em áreas onde você não pode fazer o Crisis Management (gestão de crise) ocasionada por uma pandemia, uma queda de energia, uma queda generalizada de conectividade, entre tantas outras coisas.

Fabiano: Um evento climático, né?

Carlos: Pode ser um evento climático, mas quando você sai de uma densidade rural de cinco pessoas por quilômetro quadrado para uma densidade de 2 mil pessoas por quilômetro quadrado – e que, além disso, estão em movimento –, claramente você tem que incluir o conceito, uma palavrinha nova, que foi talvez o ponto chave do último congresso sobre a Smart Cities aqui na Europa em outubro do ano passado, que é o conceito de resiliência.

É fundamental, como uma condição básica para que a cidade possa ser resiliente, que seja feito um mapa de riscos e um plano de gestão desses riscos. Tudo isso não estava nas prioridades dos congressos e da indústria – obviamente porque todo mundo quer falar de coisas agradáveis, não quer falar de tudo o que pode não dar certo pelos riscos. A indústria gosta de vender soluções para melhorar o que se chama de a “qualidade de vida” das pessoas.

Então, na pandemia, por exemplo, uma questão concreta que mudou é o conceito de desenho das cidades, que estava muito orientado para um conceito de cidade monocêntrica, ou seja, uma grande cidade com toda a infraestrutura necessária concentrada. Isso mudou, como definição da indústria, para cidades policêntricas – ou seja, você não tem mais um cluster monocêntrico. Um bom exemplo, abordado no congresso de Paris, é a cidade de 15 minutos: você tem um monte de cidades de 15 minutos que fazem parte de um centro urbano, mudança impulsionada pela pandemia. Por quê? Porque senão você não pode gerenciar confinamentos cirúrgicos. Por exemplo, você não consegue confinar toda São Paulo, mas você pode medir e indicar que em determinado bairro você tem que fazer um confinamento cirúrgico, entendeu?

Então, acho que a Covid foi um alerta adiantado para parar e voltar a pensar o que a gente faz como gestão de crise para não concentrar muito risco para as pessoas.

Fabiano: Esse é um ponto muito interessante: você entender a cidade como um agrupamento de pequenos centros, para efeito de gestão – embora torne a coisa mais complexa também – mas ela torna a gestão muito mais eficiente nas cidades, não?

Carlos: Muito mais eficiente. Mas é interessante trazer algumas medições porque, como eu falei no terceiro ponto, que é essa medição do impacto, nós temos aqui um estudo na Europa, que foi feito em 2018 com os primeiros valores que mostram a tendência atual. Por exemplo, nós temos aqui sete pontos de medição para entender as melhorias e a evolução da implantação de conceito de Smart City em áreas chaves, que depois a gente pode repassar. Mas os números mostram que, por exemplo, o tempo que um cidadão tem para fazer uma solicitação ao governo caiu entre 45% e 65%. O tempo de comutação entre tarefas de cidadãos caiu de 15% a 20%. Ou seja, a gente tem mais tempo para viver porque perdemos menos tempo fazendo coisas com o governo e menos tempo precisando interagir com outras pessoas.

Na questão da segurança, com o foco nas fatalidades por problemas diversos na cidade, o tempo caiu entre 8% e 10%. O tempo de resposta a acidentes e problemas de segurança caiu entre 20% a 35%. Ou seja, ficou mais rápida a resposta ao cidadão. A questão da detecção e prevenção do crime tem melhoras, dependendo da cidade e da tipologia do crime, de 30% a 40%. E esse número, quando você estuda o que tem por trás dele, são aqueles crimes mais frequentes na cidade e não aquele crime sofisticado, mas tudo o que acontece nas ruas no dia a dia.

Por outro lado, o custo de viver na cidade para o cidadão – por conta essas melhorias – caiu 3%. O emprego formal, graças a interação da tecnologia e a transformação digital, cresceu 3%. A conectividade social entre pessoas, ou seja, a participação cívica entre cidadãos dentro da sua comunidade melhorou ou aumentou 15% – e, dentro das áreas geográficas diversas, melhorou em 25% essa conectividade.

E o impacto ambiental, em relação as emissões de gases de esfeito estufa, já está caindo na faixa de 10% (9,7%). O consumo de água foi melhorado em 35% e o tratamento de resíduos que podem ser reciclados melhorou 27%. E finalmente, a questão de saúde, a quantidade de pessoas que foram salvas por novas políticas que em outro contexto estariam mortas, deixando fora o efeito do Covid, melhorou entre 8% e 15%, dependendo da cidade que estamos olhando.

Então, quando você vê esses números, você tem o ponto chave que é a smart city. A partir destes pontos de medição, conseguimos verificar como a gente pode administrar melhor o nosso tempo e gerenciar o impacto desse aumento da urbanização.

Fabiano: Perfeito. Mas quando você menciona a medição e, portanto, o impacto desses fatores todos, a gente está falando de captação de dados, de tecnologia também, não é? Como é que você vê essa situação na Europa – dos investimentos em inteligência tecnológica aplicada às cidades – em relação aos mercados latinoamericanos ou propriamente o Brasil?

Carlos: Bom, claramente, sem tecnologia você não pode começar a falar de smart city. Agora, como nós gostamos de falar sempre em nossa empresa há muito tempo, a tecnologia ela não é nem boa, nem ruim. Ela é fantástica quando faz parte de um bom plano, uma boa política, de estratégia – ou pode ser muito ruim. Mas por que a tecnologia pode ser muito ruim? Porque existe uma confusão quando você fala de “transformação digital”.

Todo mundo fala de transformação digital da empresa, do governo, das pessoas, mas a transformação digital não é usar um computador ligado à internet para automatizar um processo que antes você fazia manualmente. Por quê? Porque aquele processo que foi criado na função de negócio, gestão de governo ou qualquer outro, foi pensado para um contexto de interação de pessoa a pessoa, olho no olho, ou correio postal com correio postal. Então, quando você faz uma automatização com computador super veloz com 4G ou 5G, você na realidade está fazendo uma aceleração de um processo obsoleto, que traz mais prejuízos com tecnologia do que quando se faz manualmente, como foi desenhado originalmente.

A transformação digital é criar novos processos a partir da tecnologia que temos hoje disponível, com uma arquitetura onde você pensa que as pessoas vão ter uma identidade digital, onde você vai ter que garantir níveis de segurança e de proteção de dados conforme necessário, e que você vai ter grandes bases de dados onde – com a aplicação de inteligência artificial – você vai conseguir trazer respostas que você não conseguiria imaginar na época em que era manual.

Porém, transformação digital – e com isso concluo a resposta – é fundamental como uma política pública, onde o governo tem que balizar esse caminho para que as pessoas e as empresas privadas, por fora dos ciclos políticos, possam fazer investimentos para fazer essa transformação em toda a sua função de negócios e na sua vida pessoal. Fundamentalmente nas áreas das quais nós falamos de como equipar sua casa, de como pensar o transporte, como pensar que carro vai comprar, como olhar o futuro. Ou seja, políticas públicas tornam a tecnologia algo com que podem e estão interligadas e sincronizadas.

Fabiano: Ok, perfeito. Você fala direto de Madrid e gostaria que você comentasse qual é o nosso interesse, a nossa participação ativa na região da Europa?

Carlos: Bom, nós temos aqui duas missões muito claras. A primeira missão é que, clientes da Europa que estão de olho em fazer negócios na América Latina, podem ter de minha parte o primeiro nível de apoio para colaborar com a estratégia de como entrar no mercado da América Latina, apoiando-se na green4T para todas as suas necessidades.

E a segunda missão, que é fundamental, é que nós aqui não estamos no dia a dia operacional da LATAM. Então, nós estamos focados em participar dos fóruns, em pesquisas, em detecção e medição de performances de novas soluções muito focadas em nossas áreas de competência no Brasil e na LATAM. Então, podemos falar que a minha participação aqui é estar olhando o futuro para que nossa empresa possa participar como um player world class da discussão da indústria do Smart City e, depois, classificar soluções, categorizar e priorizar para levar o melhor do mundo aos nossos clientes em nossa área de atuação.

Fabiano: Perfeito, Carlos, para finalizar, já que falamos de futuro e estamos falando de cidades inteligentes, como é que você vê esse futuro de cidades inteligentes aqui no Brasil com seu olhar aí da Europa?

Carlos: Olha, o Brasil, assim como a LATAM, diferente da Europa, tem uma diversidade cultural, geográfica e de negócios que é difícil falar como uma só coisa. Mas eu penso que o gestor público no Brasil, ele tem uma vocação de pensar e planejar o futuro muito bem orientado para a transformação. Porém, o fenômeno da urbanização não é uma opção, é uma questão para administrar. Eu acho que o gestor público no Brasil está olhando de perto isso, acho que as lições da pandemia estão trazendo também outros desafios. Eu vejo que depois da pandemia, com uma situação normal, vai iniciar um ciclo muito virtuoso de inovação, de criar soluções escaláveis e modulares nas áreas de transporte público e saúde, na detecção antecipada de riscos, gestão de crises e de medir tudo o que está acontecendo na cidade para depois ter um acervo de dados suficientes para imaginar soluções para melhorar o tempo das pessoas na cidade, a inteligência do transporte, a complementação pública ou privada. E finalmente, eu gostaria de colocar que não se tem smart city se o conceito de gestão da cidade não é do funcionário público para o cidadão, mas sim do gestor público com a participação do cidadão. E não tem smart city se não tem “cidadão inteligente” também, porém, esta é uma questão cultural que também tem de ser tocada.

Fabiano: É uma questão da inclusão do cidadão exatamente na criação das políticas públicas. Isso é muito Smart City, né?

Carlos: Exatamente.

Fabiano: Muito bem. Eu preciso encerrar este podcast, infelizmente, então, gostaria de agradecer ao Carlos Morard que é o Diretor Internacional de Desenvolvimento de Negócios da green4T sobre toda essa conversa que tivemos agora e abrir para seus comentários finais.

Carlos: Sou eu que agradeço. Um abraço para toda a comunidade das nossas mídias sociais, clientes e pessoas interessadas sobre esse grande desafio que temos que viver juntos.

Fabiano: Muito bem, então é isso. Muito obrigado, Carlos. Eu espero que você também tenha gostado desse podcast, portanto, curta bastante. Compartilhe esse conteúdo e outros conteúdos relevantes sobre tecnologia publicados em nosso blog Insights, YouTube, em nossas mídias sociais e aqui no Spotify. Muito obrigado a todos e até o próximo episódio.