Cidades Inteligentes: Vantagens e Soluções – Episódio 9

Como a aplicação da tecnologia pode transformar a vida nas cidades? A definição de "cidades inteligentes" e como ela se revela em soluções para áreas como mobilidade urbana e serviços públicos é o tema deste podcast com Aurélie dos Santos, gerente de Smart Cities da green4T.

Cidades Inteligentes: Vantagens e Soluções – Episódio 9

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Me chamo Fabiano Mazzei e sou jornalista na green4T. Nesta nona edição.. nona edição teremos uma conversa com **Aurélie dos Santos, gerente de Smart Cities na green4T**, sobre **Cidades Inteligentes: Vantagens e Soluções**, um panorama sobre este conceito que aplica tecnologia e soluções digitais na gestão e no planejamento das cidades para melhorar a qualidade de vida das pessoas nas áreas urbanas.

**Fabiano: Olá Aurélie, muito obrigado pela presença!**

**Aurélie dos Santos:** Olá, obrigada pelo convite.

**Fabiano: Muito bem, vamos começar deixando claro para todos que nos ouvem o conceito de Smart City: o que faz uma cidade ser considerada “inteligente”**?

**Aurélie:** Então, existem diversas definições, algumas focam mais nas tecnologias que tornariam as cidades mais inteligentes. Outras definições preferem focar no objetivo de **melhorar a qualidade de vidas das pessoas** e tornar as cidades mais inteligentes através da **sustentabilidade**, de sua **adaptabilidade**, além desse **uso da tecnologia**.

Mas em todas as definições que eu já li, tem sempre quatro temas que se repetem em todas as definições:
Melhoria da qualidade de vida das pessoas, melhorando os serviços e usando melhor os recursos;
Integração entre serviços da cidade;
Participação popular;
Uso da tecnologia.

É interessante a gente destacar uma definição de uma norma, ABNT 37100, que fala que uma cidade inteligente é aquela onde “as decisões são tomadas de forma consistente, com visões de curto e de longo prazo. Além disso, são conhecidas por usar a **tecnologia no processo de planejamento**, sempre mirando o crescimento econômico e sustentável, sem deixar de considerar os cidadãos”.

Na cidade inteligente, os gestores públicos usam tecnologias para **tomar decisões operacionais em tempo real e para tomar decisões de planejamento de médio a longo prazo**. Esse uso da tecnologia tem por objetivo tornar as decisões públicas e operacionais mais eficientes e mais adequadas à realidade tendo informações na mão. Esse primeiro objetivo permite diretamente e indiretamente melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram ou que estão nas cidades.

É importante ressaltar que este uso da tecnologia nas cidades se insere num contexto de **Transformação Digital** que está acontecendo no mundo já há alguns anos.

E o que é essa transformação? É um contexto que implica o uso de três camadas de tecnologias:
a primeira camada é quando temos dispositivos que capturam dados através de uma rede de conectividade – seja wi-fi, 4G, rádio. Então estes sensores, câmeras capturam e comunicam dados: é o que chamamos de **Internet das Coisas** ou IoT, em inglês.

Um exemplo fácil é o GPS do ônibus, que envia sua localização em tempo real. Isso é um ambiente IoT. Ele permite vários usos dos dados do ônibus para a gestão operacional e o planejamento da mobilidade nas cidades.

Os dados sobem para uma segunda camada onde são **armazenados, processados e estruturados na infraestrutura de TI** como data center ou nuvem.

Enfim, na terceira camada, as informações armazenadas viram insights e podem ser utilizados para realmente trazer a inteligência na cidade. Então, **não é só a tecnologia que torna a cidade inteligente**, mas a uso da tecnologia e o uso dos dados para operar e planejar a cidade. É isso que a torna inteligente.

Esses dados podem ser integrados dentro de uma plataforma. Visualmente, essa plataforma é composta por mapas, dashboards, tabelas e relatórios que permitem a tomada de decisão do gestor público.
Se essa plataforma está sendo utilizada dentro de um centro de comando e controle, ou centro de gestão onde convergem as informações – e onde todos os atores e gestores envolvidos se juntam e têm uma visão única –, isso traz inteligência para a cidade. Tudo isso faz parte da terceira camada.

As áreas mais comuns de aplicação de tecnologia de cidade inteligente são a **gestão do tráfego, a mobilidade**, a gente ouve bastante falar de **projetos de iluminação inteligente** também. Então, por exemplo, na gestão de tráfego temos as câmeras, os radares integrados aos centros de gestão de trânsito.

Na **mobilidade**, os usuários têm cada vez mais informações em tempo real, mais modais de transporte compartilhados como bicicleta, por exemplo, que usam estas tecnologias. Um sistema de bicicleta pública e compartilhada é um modal de transporte que usa as tecnologias das três camadas da Transformação Digital que eu comentei mais cedo.

A **iluminação pública** aplica também conceito de cidade inteligente quando os postes, por exemplo, comunicam dados de consumo a um centro de gestão da cidade, quando usam LED para consumir menos energia, quando se tem sensores para medir o nível de iluminação de acordo com a presença de pessoas ou não…

**Fabiano: Entendi. Aurélie, de que forma prática toda essa aplicação tecnológica pode melhorar a vida das pessoas no dia a dia das grandes cidades?**

**Aurélie:** Como comentei antes, o uso das tecnologias vai diretamente ou indiretamente melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Então, diretamente, se os dados de localização via GPS do ônibus são compartilhados e podem ser utilizados em tempo real em aplicativos e serviços diversos de informação, o usuário vai se organizar melhor tendo essas informações e, se tiver um problema, ele pode tomar uma decisão de mudança de trajeto ou de modal de transporte para **facilitar, adaptar e acelerar** o trajeto e a vida dele.

Se tem um acidente na avenida principal da cidade, com os dispositivos de monitoramento e com um centro de gestão operacional da cidade, o gestor do tráfego, os bombeiros e a polícia vão poder **tomar decisões mais rapidamente, de forma eficiente e centralizada**. Assim, vidas poderão ser salvas mais rapidamente, o tráfego poderá ser reorganizado mais eficientemente e a avenida poderá ser liberada também mais rapidamente.

Mas a tecnologia e os dados não são utilizados somente para **aplicações imediatas e em tempo real.**

**Fabiano: Então, aproveitando esse gancho, como estas soluções podem atuar no médio e longo prazos para a transformação das cidades?**

**Aurélie:** Os dados em tempo real podem virar histórico de dados e existem também dados que não têm valor em tempo real, mas que são importantes serem analisados para o **planejamento da cidade e dos serviços públicos a médio e longo prazos.**

Onde precisa de mais creches ou serviços ligados à infância, por exemplo, não precisa ter a taxa de natalidade em tempo real. Mas para fazer um planejamento de médio e longo prazo é uma informação que se o gestor tem ela facilmente, mapeado com relatórios adequados, pode ajudar no planejamento que vira mais inteligente.

É bom saber onde estão ocorrendo os acidentes na rua para poder ajudar e organizar a atuação operacional o mais rapidamente possível – como comentei antes –, mas é bom ter todos os acidentes dos últimos anos mapeados para poder fazer um planejamento viário adequado e diminuir a taxa de acidente.

Então, a gente pode observar que a tecnologia utilizada está presente transformando e acelerando vários aspectos do nosso dia a dia, facilitando a vida das pessoas.

**Fabiano: Ótimo, Aurélie, vamos olhar para o mundo agora: quais cidades são consideradas as mais inteligentes hoje e quais os projetos que elas desenvolveram que mais chamaram a sua atenção?**

**Aurélie:** Então, antes de citarmos os exemplo, acho interessante destacar dois tipos de cidades de modo geral.

Primeiro, as **cidades planejadas e novas** que usam o conceito de inteligência para produzir energia, utilizar o menos possível energia tentando tornar a cidade sustentável ao máximo utilizando as novas tecnologias

Temos o exemplo famoso de **Songdo**, na Coréia do Sul. A infraestrutura de rede da cidade inteira utiliza tecnologias avançadas, os edifícios – sejam comerciais ou residenciais – têm seus subsistemas conectados com a rede de energia, então, o alarme de incêndio manda informações em tempo real e isso reduz o custo de manutenção e traz mais segurança. Os edifícios residenciais têm gerenciamento de consumo de energia de cada apartamento, com ajustes diversos quando o morador está na própria casa ou fora de casa. Ele pode ajustar a luz ou o ar condicionado, por exemplo. E já em 2013, **os apartamentos, escolas e edifícios comerciais estavam equipados com sistemas de vídeo para diminuir a necessidade de deslocamento** e, assim, reduzir a emissão de carbono da cidade. Fomos meio que forçados a fazer isso devido a pandemia, mas os moradores de Songdo já tinham essa opção há nove anos.

O outro tipo de cidade é a antiga, que já existe, que já é densa e não foi pensada para utilizar e integrar todas essas tecnologias. Então, a pergunta é **como transformar estas cidades antigas, até históricas, em cidades inteligentes?** As cidades europeias e asiáticas já fazem, é possível, mas são transformações diferentes a serem pensadas, comparado às cidades que são pensadas no zero.

Em vários rankings de cidades inteligentes, Nova York –que é uma cidade já mais antiga, no sentido que ela não está sendo construída agora –, é considerada como uma das mais inteligentes cidades do mundo. Isso pela sua infraestrutura como, por exemplo, a rede semafórica com sensor de trânsito, que sinaliza qual via tem mais carros e, então, o sinal verde se torna mais demorado que a outra via onde tenha menos carros. Mas isso existe também em várias cidades no mundo, como na Holanda, que são menores que Amsterdã e ainda mais antigas que Nova York.

Então, **ser cidade inteligente é também ter alguma agência ou estrutura municipal que conecta os diversos atores do ecossistema de inovação** que sejam start ups, empresas global tech ou as próprias comunidades. Em Nova York tem o New York Cityx para isso.

Nova York oferece aos moradores de habitação de interesse social, com aplicativos para gerenciar todos os serviços ligados à habitação municipal. **Isso faz parte de uma cidade inteligente, ter estes serviços públicos digitais**. Ela oferece sensores de consumo de água no espaço público, por exemplo. Então, se tem um vazamento, fica mais rápido de consertar.

Essa cidade tem também dados abertos muito diversos que permitem essas inovações, como a localização de mobiliário de rua, locais com autorização para se ter cachorro, nível de poluição do ar, enfim, é bem diverso.

**Fabiano: Muito bem, agora a gente precisa colocar o Brasil neste contexto e neste mapa de transformação das cidades. Quais as iniciativas aqui podemos destacar dentro deste conceito ‘smart’? **

**Aurélie:** De maneira mais geral eu acho que ultimamente, e talvez ainda mais devido à pandemia, os profissionais brasileiros tanto do lado público quanto do lado privado falam cada vez mais desse conceito de cidade inteligente. Acho que isso é um passo básico, mas importante para tornas as nossas cidades mais inteligentes.

A legislação está sendo adaptada para incentivar ou ajudar na aplicação de tecnologias, com diretrizes e financiamentos. Por exemplo, em dezembro de 2020, a **Carta Brasileira de Cidades Inteligentes** – que propõem diretrizes e uma ideia do que poderia ser a cidade inteligente no País – foi lançada.

Existem laboratórios, agências, que estão sendo montados para incentivar inovações e projetos novos. Por exemplo, tem o Mobilab, em São Paulo, que já tem há alguns anos; o HUB em Salvador e em Curitiba.

Falando de Salvador, essa cidade lançou um dos primeiros editais para uma consultora realizar o PDTCI: o **Plano Diretor de Tecnologias para Cidades Inteligentes**, que é um passo importante rumo a transformar Salvador em cidade inteligente.

Esses laboratórios são interessantes porque as inovações que estão sendo pensadas e criadas lá podem ser mais adaptadas ao contexto urbano em quais elas estão.

Outro ponto interessante é cada vez mais cidades brasileiras estão interessadas em ter centros de operação ou gestão integrados que permitam ter mais eficiência e adequação na atuação das cidades. Estes centros são passos para que as cidades se tornarem mais inteligentes.

**Fabiano:** Muito bem, infelizmente o nosso tempo acabou e precisamos nos despedir. Conversamos aqui com **Aurélie dos Santos, gerente de Smart Cities na green4T**, sobre **Cidades Inteligentes: Vantagens e Soluções**. Um tema muito interessante e que, com certeza, ainda renderá ainda muitas outras conversas por aqui.

**Aurélie**, foi um prazer, muito obrigado pela presença e por compartilhar os seus conhecimentos aqui conosco.

**Aurélie:** Muito obrigado você e espero que tenhamos mais podcasts sobre o tema.

**Fabiano:** Com certeza, então é isso, convido você a continuar a acompanhar o nosso podcast e também outros conteúdos relevantes sobre a tecnologia da informação no blog INSIGHTS, no site da green4T.

Nós esperamos que tenha gostado desta edição. Muito obrigado e até o próximo programa!