Transformação Digital – Episódio 4

Como a transformação digital tem redesenhado os processos e modelos de negócio de empresas e organizações, bem como o papel do CIO.

Transformação Digital – Episódio 4

Neste episódio, Pascal Toque, diretor de IoT & IoC Solutions da green4T, explica o impacto da transformação digital nas empresas e organizações, fala sobre papel estratégico do CIO e de como a pandemia tem acelerado esta revolução tecnológica.

Fabiano: Seja muito bem-vindo a mais um greenTALKS, o podcast da green4T. Eu sou Fabiano Mazzei, jornalista responsável da green4T, e gostaria de agradecer a sua audiência.

O tema de hoje é “Transformação Digital”. Pascal, muito obrigado pela presença, gostaria demais de agradecer essa conversa.

Pascal: Fabiano, boa tarde, obrigado pelo convite, honrado em estar com vocês hoje e vamos falar efetivamente sobre Transformação Digital, compartilhar o conhecimento sobre este processo muito importante na nossa sociedade atualmente.

Fabiano: Maravilha. Pascal, para começar, conte um pouco para gente o que é ‘transformação digital’: o que muda na vida das pessoas, das empresas e das organizações?

Pascal: Fabiano, este é um tema atual, uma terminologia que encontramos em todas as mídias. Qualquer evento hoje utiliza este termo de ‘transformação digital’, então, acredito que para começar é importante contextualizar e definir, de forma simples, o que é a transformação digital, para que todo mundo possa estar alinhado e ter um entendimento uniforme em relação a este processo.

A transformação digital é, nada mais, nada menos, do que o processo de se integrar a tecnologia digital a todos os aspectos da organização. Isso vai ter um impacto profundo e abrangente, exigindo mudanças fundamentais da tecnologia, da cultura, do tipo e nível das operações, e da entrega de valor que estas organizações vão ter, tanto internamente como em relação ao seu mercado.

Para poder efetivamente melhor aproveitar essas tecnologias e o surgimento de outras novas, garantindo que o ser humano possa aderir a essas mudanças, a organização vai precisar se reinventar totalmente, transformando radicalmente todos os seus processos e modelos.

Isso significa que a transformação digital não só se limita a uma mudança tecnológica. Obviamente, novas tecnologias estão surgindo no mercado. Estão falando muito de IoT, de inteligência artificial, de análise e integração de dados. Mas isso não limita – é uma visão muito reducionista – sobre o que é realmente o processo de transformação digital.

Um dos processos mais importantes é a mudança de mindset. Ou seja, garantir que as pessoas, mudaram totalmente a mentalidade para criar e desenvolver um novo modelo de negócio que seja mais eficiente e mais adequado.

Outro aspecto muito relevante é que não só as pessoas dentro das organizações, mas também do lado do consumidor e do cliente, adotem um novo comportamento para sustentar a mudança dessa cultura. Os processos vão ter que passar por uma transformação profunda com o redesenho de todos eles, justamente por conta do impacto que estas tecnologias e a transformação digital vão criar para a organização.

Os negócios – e estou falando de forma muito abrangente dentro da visão da organização – vão mudar também, e a forma de conduzir e operar estes negócios já estão sendo totalmente impactados pela transformação digital.

A visão é sempre mais integrada: toda a cadeia que, antigamente, era segregada e segmentada, com várias verticais operacionais, hoje precisa ser tratada de forma muito mais consolidada justamente através do processo de integração e transformação digital, para que se tenha uma visão muito mais holística e mais completa do negócio.

E, por fim, a relação com o mercado e com o cliente também está impactada. Deve-se criar novas formas de relacionamento com o cliente, muito mais orientada pela experiência e pelo entendimento da necessidade dele.

Fabiano: Muito bem, ficou claro que esta é uma transformação que abrange diversos aspectos da vida – não só das pessoas, como das empresas também. Mas a gente vive um momento – e eu gostaria da sua opinião – absolutamente fora do previsto, que é a pandemia. Como é que a transformação digital convive com um episódio tão importante na história da Humanidade?

Pascal: Primeiro, Fabiano, é importante entender que a transformação digital não começou junto com a pandemia. O processo é mais antigo, mesmo sendo relativamente recente. Muitas empresas e organizações já haviam começado a realizar a jornada neste sentido e, paradoxalmente, a pandemia teve um efeito acelerador e catalisador desta transformação digital.

Ela reforçou a necessidade de gerenciar e conduzir os seus negócios e operações de uma forma remota, principalmente em função da limitação de nos deslocar e pelo distanciamento social, imposto pelo risco de disseminação do vírus. Nós somos uma prova: estamos realizando um podcast através de plataforma online e, dentro do nosso dia a dia profissional, já nos acostumamos a nos comunicar dentro destas plataformas. Esta é só uma visão específica do impacto direto que a pandemia trouxe para acelerar este processo de transformação digital.

É também importante dizer que a pandemia trouxe um impacto econômico negativo em função das maiores limitações e da dificuldade no desenvolvimento dos negócios. Isso obrigou as organizações a terem uma escolha muito mais assertiva e eficiente do uso dos seus recursos financeiros para empregar as tecnologias que melhor atenderão as suas necessidades e permitirão continuar a crescer e sustentar o seu desenvolvimento, independentemente do momento de escassez de recursos como o que estamos vivendo nos últimos meses.

Fabiano: Maravilha, entendi. Vamos aproveitar aqui esta oportunidade para esclarecer um outro ponto que acho que é um equívoco comum das pessoas, quando pensam que a tecnologia é o fim do processo de transformação digital. Não seria isso: a tecnologia é um meio para se alcançar este processo de transformação, certo?

Pascal: Perfeito, Fabiano. Como lhe expliquei previamente, a transformação digital vai muito além do simples e mero uso de tecnologias. É claro que o papel da tecnologia é extremamente relevante neste processo porque ele vai suportar todas as atualizações e inovações que vão permitir que esta transformação ocorra. Entretanto, sem o envolvimento das pessoas e uma mudança radical na cultura das organizações, este processo de transformação digital não terá o mesmo alcance e o mesmo nível de sucesso para garantir uma reformulação suave e eficiente das organizações.

Todas estas tecnologias têm um ponto comum: quando falamos da mudança de cultura e de gestão, estamos nos referindo a um modelo que será totalmente orientado por dados. Todas estas tecnologias vão gerar um aumento exponencial do volume de dados. Isso se caracteriza tanto por números que permitem ver o crescimento absurdo no volume de dispositivos de IoT que vão ser implementados no mundo – hoje estamos falando de mais de 50 bilhões de dispositivos conectados e, até 2030, estaremos com mais de 120 bilhões. A quantidade de dados gerados a partir disso deve chegar a 175 zettabytes até 2025.

Entretanto, este dado, apenas no seu estado bruto, não necessariamente ajudará a organização e o gestor a dar mais eficiência aos seus processos de gestão e na condução de suas operações. O dado, quando coletado e utilizando a tecnologia de IoT, vai gerar algo que não permitirá ao gestor ainda entendê-lo e tampouco vai ajudar no processo de gestão, para apoiá-lo em suas tomadas de decisão.

Primeiro, esse dado precisa se transformar em informação. Para que isso aconteça, uma vez coletado e transmitido através de tecnologias da comunicação, ele vai passar por uma fase de processamento e armazenamento para, de fato, conseguir fazer um primeiro filtro destas informações, permitindo alimentar futuramente todos os processos de gestão e de operação da empresa. Após realizado o armazenamento e o processamento, as informações vão precisar virar o que nós chamamos de “insight”. Ou seja, informações que são efetivamente relevantes para alimentar o gestor e permitir que ele tenha capacidade de análise e entendimento para ajudá-lo no processo de tomada de decisão.

Tudo isso será possível desde que também se implemente uma infraestrutura digital dimensionada e concebida para melhor atender aos requisitos de cada organização. A partir desta visão e das novas tecnologias disponíveis – como o cloud computing, edge computing, inteligência artificial e diversas ferramentas de análise e integração de dados -, entendemos que uma estratégia híbrida é a situação ideal e mais adequada para permitir a criação de um ecossistema personalizado. Ele deverá se adaptar e responder conforme cada perfil de negócio e de organização.

Fabiano: Pascal, você comentou sobre estratégia de TI híbrida. Você poderia explicar melhor como as organizações podem se beneficiar deste modelo para viabilizar o processo de transformação digital?

Pascal: Perfeito, Fabiano. Antes de falar efetivamente disso, acho importante dizer que existem alguns aspectos e parâmetros que a organização precisa considerar para poder avaliar e definir de que forma o seu processo de transformação digital precisa ocorrer.

Dificilmente uma organização vai conseguir abraçar integralmente este processo de uma vez. E o projeto, quando fica muito ambicioso, corre o risco de fracassar em razão da dificuldade e complexidade que este processo de transformação pode trazer à organização.

Dentro deste aspecto, a empresa vai precisar – em função das regras e de sua organização – definir alguns parâmetros importantes relacionados, por exemplo, à sua governança e de que forma ela gerencia o seu negócio. Vai precisar considerar o parâmetro de segurança: estamos falando de tecnologia digital e, partir do momento que todo o seu modelo vai ser baseado em dados, você precisa estar extremamente atento a garantir a integridade e a segurança destas informações. Ela vai precisar considerar também a compatibilidade. Hoje, muitas tecnologias permitem que a arquitetura, a topologia destes sistemas evolua, mas não são necessariamente compatíveis com a infraestrutura legado que as empresas já têm. Então, é importante mapear e entender como a empresa trabalha hoje e quais são as futuras plataformas que a empresa pretende implementar dentro deste processo de transformação para garantir uma integração e compatibilidade de todos estes sistemas para conseguir suportar este processo.

Outro aspecto também é garantir que a transformação digital possa acompanhar de forma fluida o crescimento da organização e suas operações. O objetivo é sempre ser mais ágil e eficiente, então, você precisa garantir que qualquer atualização ou novidade tecnológica que vá ser implementada permita muito rapidamente oferecer aspectos de escalabilidade, modularidade e elasticidade, para fazer com que todas estas tecnologias possam, minimamente e em tempo real, acompanhar o crescimento da empresa.

Dentro disso – e voltando à sua pergunta -, vamos falar do que nós chamamos de estratégia híbrida. Eu vou utilizar, então, exemplos concretos para falar desta situação. Vamos falar de uma empresa que tenha uma equipamento produtivo – qualquer que seja a finalidade de produção. Ela já tem, obviamente, um legado, uma história de operação muito grande, e um parque industrial que precisa se manter para continuar as suas operações. Então, essa empresa entendeu que ela precisa, através da transformação digital, se modernizar, ser muito mais inovadora e estar na vanguarda para ser mais competitiva no mercado.

A partir deste momento, ela vai precisar entender quais os parâmetros ela poderá atender e de que forma. Hoje, muitas das tecnologias e sistemas utilizados pelas empresas – que historicamente sempre foram tratadas dessa forma – são baseadas em uma infraestrutura on premise. Então, toda essa tecnologia era concentrada e baseada dentro da empresa mas, ao longo do tempo – inclusive para as indústrias – isso começou a evoluir e se transformar.

Primeiro, muitas empresas e indústrias – não fazendo parte do core business delas essa visão tecnológica – começaram a terceirizar essa infraestrutura e serviços através de provedores, de colocation ou de empresas para fornecer isso como serviço. Ao mesmo tempo, o uso de novas tecnologias, por exemplo, para permitir um novo sensoriamento dentro das usinas, do aparelho produtivo desta empresa, vai obrigá-las a utilizar outras tecnologias de computação como o edge computing – a computação de borda – para permitir que todo o processamento dos dados esteja próximo da coleta dos mesmos e poder eliminar ou minimizar o impacto relacionado à latência ou eventual dificuldade ou carência relacionado à estrutura de comunicação.

Tudo isso permite que a empresa comece a definir o modelo composto por estas novas tecnologias. O último movimento, mais recente, que impacta grandemente nesta estratégia é o cloud computing. Muitas das plataformas que o mercado hoje disponibiliza já vêm prontas e foram desenvolvidas de forma nativa para funcionar na nuvem. E isso também vai ser considerado pela organização para poder compor um ecossistema, um modelo totalmente híbrido, dentro dos parâmetros que eu coloquei previamente, para melhor atender às necessidades dos seus negócios e permitir uma transformação digital, fluida e gradativa, sem prejudicar o crescimento do seu negócio.

Fabiano: Muito bem. Muito conteúdo, muito conhecimento e a gente falou muito até aqui de mudança de mindset, dos modelos de gestão, na infraestrutura e papel do ser humano neste processo todo. Eu te pergunto: como fica o papel do CIO neste contexto?

Pascal: O CIO, Fabiano, sempre teve – não data de hoje – um papel relevante dentro da organização. Mas é claro que com este processo de transformação digital, o papel dele se tornou mais relevante. Incluindo, dentro dessa mudança de cultura, a própria terminologia “CIO” vem mudando: você vê surgindo novos cargos e funções que são diretamente relacionadas ao termo da transformação digital. Estamos falando de Chief Digital Transformation e de outros tipos de cargos que, de fato, traduzem e caracterizam a mudança da função que nós, até hoje, estávamos chamando de CIO.

O CIO, dentro deste processo, vai ter várias atribuições e funções que vão muito além do perfil mais técnico que historicamente conhecemos, e vai fazer com que ele tenha de entender muito mais do negócio, do business como um todo, e vai precisar interagir com todas as equipes para compreender as necessidades da organização, as operações que ela precisa gerenciar e conduzir e cada vertical do negócio.

Ele vai se tornar também um advisor, um tipo de consultor interno para liderar este processo de transformação digital e orientar a empresa sobre qual a melhor solução tecnológica poderá se aplicar para cada uma das áreas e operações. O CIO terá o papel de ajudar a todos, do gerenciamento à cúpula executiva da empresa, no entendimento do impacto dessas tecnologias e quais delas poderão, de fato, melhor atender o requisito de cada organização.

E, por fim, o CIO vai ter uma atuação mais transversal. Ele vai atuar horizontalmente em todas as áreas da empresa e esta interação e a capacidade de entender as necessidades de cada uma dessas áreas serão o fator chave para o sucesso na validação da melhor estratégia, tanto para o negócio como para a operação da organização.

Fabiano: Ou seja, uma responsabilidade imensa! Muito bem. Infelizmente o nosso tempo está chegando ao fim. Nós conversamos aqui com Pascal Toque, diretor de IoT & IoC Solutions na green4T, sobre Transformação Digital. Pascal, mais uma vez muito obrigado por sua presença neste podcast e por compartilhar todos estes conhecimentos com a gente.

Pascal: Muito obrigado Fabiano, muito obrigado pelo convite, espero que tenha contribuído para que os nossos ouvintes entendam um pouco melhor o que é o processo de transformação digital. Fico à disposição para um futuro podcast para podermos falar outros assuntos relacionados ao tema e sobre novas tecnologias. Muito obrigado!

Fabiano: Obrigado à você! Então é isso, convido você a continuar a acompanhar o podcast greenTALKS aqui no Spotify e também outros conteúdos relevantes sobre tecnologia e infraestrutura digital no blog Insights, que fica no site da green4T. Nós esperamos que você tenha gostado desta edição. Muito obrigado e até o próximo programa.