Gestão Colaborativa e Integrada da Segurança Pública – Episódio 3

Neste episódio, Coronel Osório, da equipe de IoC & IoT Solutions, aborda quais lições a pandemia nos deixa quanto à necessidade de uma gestão colaborativa e eficiente.

Gestão Colaborativa e Integrada da Segurança Pública – Episódio 3

O terceiro podcast do greenTALKS conta com um convidado especial, Coronel Osório, e a conversa sobre Segurança Pública é mediada por Fabiano Mazzei, jornalista da green4T.

Fabiano: Olá, seja muito bem-vindo a mais um greenTALKS.

Hoje nós vamos falar sobre tecnologia e os benefícios da gestão integrada de dados para a Segurança Pública, Coronel Osório, muito obrigado pela presença.

Você também pode ouvir a íntegra deste podcast no canal greenTALKS, no Spotify.

Fabiano: Olá, seja muito bem-vindo a mais um greenTALKS, o podcast da green4T.

Eu me chamo Fabiano Mazzei e sou jornalista da green4T. Hoje nós vamos falar sobre Tecnologia e Segurança Pública: os benefícios da gestão integrada de dados nas mais diferentes estratégias de segurança pública.

Este podcast estará disponível no nosso canal do Spotify, o greenTALKS,  e também divulgado nas nossas mídias sociais.

Nesta edição, vamos conversar sobre o tema com Coronel Osório, que é Gerente de Comando e Controle da área de IoT & IoC Solutions da green4T. Coronel Osório, muito prazer e muito obrigado pela presença.

Osório: Eu que agradeço aos senhores pela oportunidade, é um prazer estar aqui, e estamos prontos para as perguntas e para essa conversa.

Fabiano: Muito bem, Coronel Osório, vamos começar e já associo este tema à pandemia de Covid-19 que estamos vivendo. Na sua avaliação, de que forma a pandemia reforçou a necessidade de uma gestão colaborativa e integrada da Segurança Pública? E quais foram as lições aprendidas?

Osório: Bom, podemos iniciar a dissertar sobre estas questões, mas primeiramente nós deveremos entender o conceito de “Segurança Pública”. Eu vou me ater um pouco às definições.

A Constituição Federal de 88, por definição, diz que: Segurança Pública é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem publica e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos órgãos: a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Civil e a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares.

Porém, com o passar do tempo, como resultante da forma de convivência em uma sociedade entendida como democrática, passou a existir o entendimento de que a melhor estratégia para promover a segurança pública seja entender a segurança pública não simplesmente como uma função do estado, realizada por agentes públicos, mas como uma condição ou situação de fato, de convivência ordenada, pacífica e tranquila, em uma determinada comunidade ou sociedade.

Ou seja, o que nós queremos dizer com isso? Que é necessário ampliar a participação da sociedade no planejamento, na execução e no controle das atividades da segurança pública, de forma que os cidadãos e as organizações da sociedade civil assumam sua parcela de responsabilidade na busca de solução dos problemas existentes no setor.

Com esta abordagem, com esta nova visão, nasceu o conceito de Segurança Cidadã, o qual tem afinidade com o conceito de direitos humanos, distanciando-se de posições autoritárias anteriores.

Então este é o cenário hoje, de Segurança Pública migrando para uma Segurança Cidadã. Uma visão diferenciada. Entendido isso, vamos então para a questão colocada pelo senhor.

Focando na Segurança Cidadã, considerando o cenário da pandemia, identificou-se rapidamente que a principal ‘força’ de resposta ao problema não estava nas tradicionais forças de segurança e, sim, na Saúde. Posteriormente, no desenrolar da situação que foi sendo agravada, a outra ‘força’ a entrar em operação foi a da Defesa Civil/Bombeiros, no isolamento das áreas e no recolhimento dos corpos e, na sequência, houve a necessidade de serem definidas estratégias voltadas à Mobilidade da população em seus estados e municípios e a Polícia Rodoviária Federal nas estradas.

Neste cenário pandêmico, as demais forças passaram a atuar nos problemas decorrentes, mas não menos importantes, gerados pela doença, tais como: situações como manutenção da ordem pública, elevado índice de corrupção (no caso dos hospitais, respiradores, medicamentos etc.), investigações da polícia civil, forças armadas etc.

Neste campo de batalha, de dimensões nacionais (no caso do Brasil, continentais), onde existe um inimigo comum e diferentes forças de atuação – incluindo aí contingentes civis (como no caso da saúde) –, viu-se a necessidade de serem desenvolvidas ações coordenadas e planejadas dentro de objetivos comuns, sendo o principal deles a de proteção da população.

Então, o que aconteceu: como em todo planejamento, viu-se a necessidade de serem implementadas linhas de ação conjuntas dentro de uma estratégia nacional única, onde as condicionantes variavam de região para região e a experiência existente para a ameaça identificada estava baseada em lições aprendidas de outros países – ou seja, condicionantes climáticas, sociais e econômicas bastante distintas das do Brasil.

Então, neste cenário de crise nacional, acionados os meios necessários, exigindo uma grande coordenação, envolvendo vários atores em diferentes níveis de execução, foi identificado que as estruturas existentes, que teoricamente eram dadas como operacionais por seus respectivos gestores, demonstraram não estar totalmente aptas para a situação apresentada, pois além de faltar o necessário treinamento de seu pessoal orgânico, no que diz respeito às operações conjuntas ou combinadas em situação de crise extrema, as suas infraestruturas técnicas e sistêmicas não estavam implementadas para operar de forma correta dentro de um cenário tão complexo e interdependente. Como resultado, o que ocorreu? No curto prazo, passaram, então, a colapsar.

Então, tendo estes fatos como verdade, gestores iniciaram ações visando a cuidar de seus respectivos cidadãos: fecharam suas fronteiras, municípios isolaram suas cidades, hospitais de campanha foram idealizados, regras de circulação foram impostas, ações de repostão a população foram determinadas, entre outras coisas.

Apesar destas medidas, ficou patente a impossibilidade de uma gestão adequada, ficou evidente que as autoridades não possuíam uma estrutura implementada capaz de lhes proporcionar uma consciência situacional mínima para que pudessem tomar as suas decisões de forma adequada e no tempo correto – lhes faltavam informações, lhes faltava condições para a produção o conhecimento – não tinham inteligência.

Então, visando superar esta deficiência, de forma emergencial, buscaram implementar ou ativar gabinetes de crise em seus diferentes níveis de gestão – e isto ainda está ocorrendo.

Esta ação foi tomada, inclusive, em estados da federação beneficiados pelos Centros integrados de Comando e Controle – CICC, os quais foram implementados por ocasião da Copa do Mundo.

Infelizmente, para alguns estados, embora existissem estruturas físicas para tal, foram identificadas dificuldades de uma coordenação única de suas forças de reação, não conseguiam operar de forma colaborativa, seus sistemas não estavam integrados – aí já incluindo a saúde, mobilidade, defesa civil, polícia militar e demais atores.

Esta falta de gestão colaborativa e capacidade de pronta reposta, motivada principalmente pela falta de integração entre seus órgãos, redundou em perda de tempo, material e, pior, em vidas humanas. Neste quadro, agora indo para a segunda parte de sua pergunta, quais foram as lições aprendidas?

Por estes problemas constatados, pela perda de vidas, algumas identificadas, como desnecessárias, perdas econômicas, perdas logísticas, com recursos mau empregados e sem o controle devido, ficaram evidentes dois pontos:

Primeiro, a necessidade de serem implementados mecanismos de gestão integrada e colaborativa, nos diferentes níveis da federação, a fim de permitir, respeitados os direitos constitucionais e de independência entre os estados, uma gestão em nível de país – uma visão verticalizada –, quando da existência de uma crise que extrapole fronteiras. Mecanismos não apenas voltados à segurança publica, como os já existentes, mas sim voltados a Segurança Cidadã. É uma outra visão, como explicamos anteriormente.

Neste cenário, foi constatado que a segurança do cidadão não está restrita a, apenas, ao Estado, mas tem que ser uma responsabilidade de todos, incluindo o próprio cidadão como corresponsável. Temos visto que o próprio cidadão, não respeitando as regras, ele está potencializando o problema que está se apresentando.

E como segundo ponto: que para esta integração sejam ativados e ou implementados, nos estados e município, ambientes integrados de gestão, que realmente tenham por objetivo possibilitar que suas forças operem de forma integrada e colaborativa, quando o problema assim o exigir, e que permitam, se e quando necessário, uma coordenação nacional, através de uma integração vertical com o governo federal, gerando os mais variados tipos de dados com o objetivo de permitir que se tenha uma real consciência situacional do problema apresentado, seja ele de qualquer natureza.

Esta é a primeira visão, acredito que tenha respondido a sua questão.

Fabiano: Sim, respondeu plenamente, obrigado. Sendo um pouco mais abrangente agora, na sua visão, quais as iniciativas que precisam ser desenvolvidas para uma melhor gestão integrada da Segurança Pública?

Osório: Bem, vamos considerar este cenário que falamos anteriormente então. Considerando isso, ficou patente que será necessária uma nova abordagem. A forma como estamos procedendo, como o País está respondendo, precisa de uma abordagem moderna. E agora, dentro de um contexto, sob a ótica da Transformação Digital.

Por ocasião da criação dos Centros de Comando na Copa do Mundo, os chamados CICC , e de outras iniciativas no mesmo sentido, este contexto da Transformação Digital ainda não estava bem delineado, não estavam bem entendidos os seus conceitos que, à época, ainda eram insipientes.

Hoje, este entendimento está enraizado e com seus conceitos bem entendidos onde centros integrados passaram a ser chamados de Centros de Operações Inteligentes – o IoC.

Porém, apesar deste entendimento, ainda vivenciamos barreiras, principalmente na área governamental, quando ainda não existe a percepção de que a transformação digital não é o simples processo de agregar novas tecnologias.

É necessário que haja um entendimento que se tenha a consciência de que se trata de uma mudança realmente profunda e significativa, ou seja, é uma disrupção em relação à operação da forma como a conhecemos, é uma passagem – podemos dizer – para um novo mundo.

Para qualquer evolução em termos de crescimento, onde a tecnologia tenha um papel fundamental, é importante que se entenda que a transformação digital envolve uma mudança estrutural nas organizações governamentais em qualquer nível (Federal / Estadual / Municipal).

E para que isto ocorra, obrigatoriamente algumas barreiras culturais deverão ser quebradas para que as instituições possam mergulhar nessa revolução. Urge que se tomem medidas práticas para fazê-la acontecer. Podemos exemplificar:

– Seguir um planejamento considerando que a mudança é estrutural, e não apenas operacional;

– Redefinir a estratégia do órgão para o mundo digital;

– Desenvolver expertises, conhecimentos, para conduzir essa transformação;

– Reavaliar os processos operacionais para serem suportados por este novo mundo digital e, neste caso, importantíssimo considerar as lições aprendidas durante a pandemia, ou seja, é necessário estar pronto para operar de forma integrada e colaborativa.

Isso foi um fato, constatado, ficou evidente. Neste contexto, com a experiência adquirida, principalmente na esfera governamental, importante que novos projetos envolvendo Centros (IoC), estejam aptos a executar operações conjuntas ou combinadas.

Para que se tenha sucesso na construção destes modernos ambientes, necessário se faz entender os conceitos deste novo mundo digital e como se beneficiar dos mesmos.

Para isto, o modelo deverá, primeiramente, considerar o conceito de computação de bordaEdge Computing , já que o IoC tem como objetivo primário a gestão da operação.

Esta decisão torna-se imperativa, considerando que as forças de reação operam em tempo real, é uma nova visão. Este conceito deverá ser muito bem entendido e utilizado na construção da solução, visto que esta prática minimizará a queda da transmissão e auxiliará, entre outras coisas, na manutenção dos serviços digitais, já que os seus dados deverão ser processados e armazenados em um servidor localizado no mesmo espaço onde foram gerados, minimizando a latência.

Neste cenário digital, a tecnologia não pode ser mais entendida apenas como um meio de otimizar as operações, automatizar processos, reduzir erros e custos, registrar e integrar dados, organizar a logística.

Ela não pode ser vista apenas como um auxílio operacional, mas como uma ferramenta fundamental para a gestão e a tomada de decisões.

Para a construção dos modelos de solução envolvendo Centros de Operações Inteligentes (IoC) deverão ser consideradas conceitos como, por exemplo, o de Inteligência artificial, o de Internet das Coisas (IoT) – onde objetos físicos (sensores) são capazes de reunir e transmitir dados capacitando a produção do conhecimento, possibilitando, então, a formação de uma consciência situacional real.

Com o avanço da transformação digital, a forma de trabalhar mudou radicalmente e, com a pandemia, isto ficou muito mais do que provado. E aí, acredito, novamente segundo momento da sua pergunta, eu não me estenderia mais.

Fabiano: Excelente, Coronel. Bem, nesta síntese sobre o tema que o senhor nos deu, quais seriam os benefícios para o Estado e para os cidadãos?

Osório: Ok, vamos lá, se o senhor permitir, nós estaremos partindo para uma conclusão, dentro do contexto que foi dito. O tema é extenso, podemos falar aqui durante muito tempo, mas vamos a uma conclusão.

Apesar de ser identificada a falta de capacidade de uma gestão adequada de diferentes forças de reação em operar de forma integrada e colaborativa em operações conjuntas ou combinadas, em diferentes níveis da federação, uma crise extrema, houve um resultado positivo.

O evento pandemia, vamos chamar assim, motivou às autoridades a revisitarem as suas estruturas e respectivos mecanismos gerenciais voltados à gestão de crise.

Fez com que revissem seus conceitos para a revitalização ou construção de Centros operacionais considerando, não só o conceito de centros de operação inteligentes (IoC), como também considerando os modernos conceitos advindos da transformação digital.

Desta forma, se bem conduzidas estas ações de agora em diante, entendemos que esse benefício ele será não só para as organizações, mas para a população em geral. Dessa forma, nós teríamos um futuro bem delineado: com muito trabalho, com muita responsabilidade, mas com uma visão totalmente diferenciada daquela que, até então, tínhamos. Porque fomos testados e algumas coisas não funcionaram.

Fabiano: Muito bem, nós conversamos aqui com o Coronel Osório, da equipe de IoT & IoC Solutions  da green4T sobre a aplicação eficiente da tecnologia e da gestão integrada de dados nas políticas de segurança pública. Coronel, muito obrigado por compartilhar os seus conhecimentos conosco.

Osório: Olha, mais uma vez eu agradeço a gentileza do convite, e permaneço à disposição para uma nova rodada se os senhores assim necessitarem. Foi um prazer realmente e muito obrigado.

Fabiano: Então é isso, convido você a continuar acompanhando os podcasts da green4T aqui no Spotify e também outros conteúdos relevantes sobre a indústria de TI nas mídias sociais e no site da green4T.

Nós esperamos que você tenha gostado desta conversa e agradecemos a sua audiência. Muito obrigado e até o próximo episódio!