A pandemia da Covid acelerou a transformação de empresas, negócios e o modo de viver, trabalhar e de se relacionar das pessoas. Algumas destas mudanças, contudo, parecem ter ganhado um caráter permanente, dentre elas, a forma como as pessoas passaram a cuidar da saúde.
Reflexo do distanciamento social necessário para se estancar a disseminação do coronavírus, muitos buscaram se consultar com os seus médicos via teleconferência. Para se ter uma ideia, apenas nos seis primeiros meses da pandemia em 2020, o número de brasileiros que aderiram a esta modalidade de atendimento saltou de 150 mil para 3,5 milhões de pessoas (Fonte: Conexa).
Mas há outras tecnologias que também registraram crescimento em sua utilização com objetivo de melhorar o atendimento a pacientes e o gerenciamento de hospitais e clínicas. Uma delas, em especial, merece destaque: o IoT (internet of things).
A internet das coisas, que conecta máquinas, sistemas, negócios e pessoas por meio de um ecossistema de sensores integrados à rede de internet ganhou relevância exatamente por possibilitar que pacientes, médicos e serviços de saúde possam se conectar estejam onde estiverem. É a partir dessa interação, com dispositivos gerando volumes imensos de dados em tempo real, que todo o segmento iniciou a sua metamorfose.
De uma maneira geral, a medicina sempre se apoiou na coleta de informações para determinar diagnósticos e tratamentos. No entanto, nada é comparado ao fenômeno data centric que o setor de saúde tem vivido nestes últimos anos.
De tão relevante, o IoT aplicado à saúde ganhou até um nome próprio: IoMT, a “internet das coisas médicas”, que permite extrair informações em tempo real de pacientes, equipamentos e ambientes hospitalares, elevando a assertividade nas tomadas de decisão. Uma vantagem que pode significar a diferença entre a vida e a morte neste segmento tão delicado.
Por sua imensa aplicabilidade e benefícios concretos, o mercado de IoMT só faz crescer. Segundo estudo da Deloitte – “Medtech and the Internet of Medical Things” – o setor deve movimentar a cifra de US$ 158 bilhões até 2022.
No mesmo relatório, está registrado um crescimento robusto no uso de equipamentos médicos conectados. Em 2018, 48% deles já estavam ligados à rede dentro de clínicas, hospitais e na residência dos pacientes. Até 2026, serão 68%.
Benefícios e aplicações
Para os pesquisadores da Deloitte, as vantagens obtidas por meio de ecossistemas de sensores conectados e aplicados no sistema de saúde são:
- Melhora na gestão dos remédios;
- Experiência do paciente aprimorada;
- Melhora no monitoramento remoto de doenças crônicas;
- Melhora no acompanhamento da evolução de enfermidades;
- Aprimoramento de diagnósticos e tratamentos;
- Redução de custos para pessoas e empresas.
O uso de IoT já é percebido em diversos equipamentos hospitalares e de cuidados pessoais. Inaladores, fundamentais para pacientes com asma, já contam com sensores que alertam sobre a frequência dos ataques, os fatores desencadeantes e até mesmo se o aparelho foi esquecido em casa.
Nanosensores de IoT têm sido colocados em cápsulas de remédios – as chamadas de “smart pills” – cujo objetivo é emitir sinais de dentro do corpo do paciente para aplicativos que monitoram o tratamento.
Healthcare ou Self Care?
Os avanços tecnológicos do setor também empoderaram as pessoas a realizarem os seus cuidados médicos em casa – sempre com o devido acompanhamento profissional.
Sistemas conectados a sensores podem informar remotamente ao médico sobre o andamento do quadro clínico do paciente. Dados sobre os níveis de glicose, batimento cardíaco e pressão arterial – com precisão e em tempo real – geram um fluxo contínuo de informações para as equipes médicas. Isso reduz a necessidade de consultas presenciais protocolares e até de internações desnecessárias, a medida que o acompanhamento à distância permite tratar, administrar medicações e mitigar eventuais problemas antes que eles se agravem. Isso é especialmente importante nos casos de doenças crônicas, como diabetes e Alzheimer.
Por esta importante atuação, o mercado global de equipamentos portáteis de monitoramento de saúde conectados à rede tem crescido consistentemente. A estimativa é alcançar US$ 55 bilhões em negócios até 2025 (Fonte: Markets and Markets). Os Estados Unidos é um dos maiores compradores deste tipo de aparelho: mais da metade dos hospitais do país já conta com estes recursos disponíveis aos seus pacientes.
Por fim, o IoT aplicado a “equipamentos vestíveis” (wearables) é outra tendência em alta. Smart watches, por exemplo, estão reunindo cada vez mais funções de suporte à saúde, como saturação de oxigênio, pressão sanguínea, além, claro, do ritmo cardíaco. Pesquisa de agosto deste ano, da Insider Intelligence, revelou que, nos Estados Unidos, 75% dos donos destes aparelhos – de um total de 45,2 milhões de usuários em 2021 – assumiram usá-los para acompanhar suas condições de saúde.
Ainda no campo dos wearables, as informações obtidas por sensores conectados a roupas ou móveis – como camas e sofás – têm sido de grande valia no monitoramento de mulheres em gestação de risco. Alterações no quadro de saúde tanto da mãe quanto do bebê logo são captadas e comunicadas ao médico via aplicativos, para que eventuais precauções sejam tomadas com a máxima agilidade.
Gestão de hospitais
Administradores hospitalares em todo mundo têm entre as suas prioridades buscar a eficiência energética e a redução de custos operacionais de suas infraestruturas de saúde. São metas que vão muito além da troca de lâmpadas ou instalação de painéis solares, embora estas sejam medidas necessárias.
A preocupação é real. Pesquisa publicada em dezembro de 2020, pela companhia irlandesa Jonhson’s Control, de sistemas de automação para smart buildings, constatou que 85% das organizações entrevistadas – incluindo hospitais – consideravam “muito ou extremamente importante” investir na diminuição dos gastos com energia. Outros 76% endereçavam o mesmo sentimento com relação a oferecer mais segurança sanitária e proteção física aos usuários dos edifícios.
Em uma análise mais estrutural, prédios hospitalares têm alto consumo de energia por seu funcionamento ininterrupto e pela complexidade de seus equipamentos. Neste ambiente desafiador, a arquitetura de IoT pode colaborar a reduzir o gasto energético de diversas formas.
Na questão da iluminação, sensores de presença ajudam no uso consciente da energia elétrica ligando ou desligando as luzes automaticamente. A temperatura dos ambientes também pode ser controlada pelo sistema de IoT. As rotinas de arrumação dos quartos e a ocupação dos mesmos podem ser gerenciadas eletronicamente. Já o manejo e descarte corretos dos resíduos hospitalares, que exigem acompanhamento atento, podem ser alcançados por meio de câmeras inteligentes de vigilância, com recursos de reconhecimento facial.
No âmbito da manutenção preventiva dos equipamentos considerados mais sensíveis, como é o caso do raio-X, da tomografia computadorizada e aparelhos para exames de imagem, os sensores inteligentes podem encontrar anormalidades no funcionamento que, no futuro, poderão comprometer a sua disponibilidade. Nesta situação, o sistema de IoT alerta quanto à necessidade de manutenção preventiva a ser realizada a fim de evitar a paralisação não programada do trabalho.
O ecossistema de sensores é especialmente importante também para o monitoramento da qualidade do ar nos hospitais, sobretudo em uma época onde o contágio da Covid pode ocorrer por meio de gotículas de saliva contaminadas e suspensas (aerossol) no ambiente. Há a preocupação ainda quanto a eventuais vazamentos de gás ou a presença de partículas nocivas ao organismo humano dentro dos dutos de ar. O trabalho do IoT, nestes casos, é encontrar estas ameaças e emitir alertas para as equipes responsáveis.
Outro ponto de tensão está no sistema hidráulico, que distribui a água pelo edifício. O motivo é a possível presença da bactéria legionella, causadora de um tipo grave de pneumonia em pacientes internados e que apresentem quadros respiratórios delicados – tipo frequente neste período de pandemia. Os sensores de IoT detectam alterações na qualidade da água, mudanças de temperatura e determinam a limpeza periódica das tubulações, mantendo o sistema em conformidade. Estas medidas automatizadas podem representar uma economia de até 83% nos custos dos serviços de verificação, em comparação aos ciclos de manutenção tradicionais.
Ainda sobre a gestão estrutural de hospitais e clínicas, a utilização de tecnologia IoT se revela essencial quanto ao enfrentamento de ocorrências extremas, como um incêndio. Sensores instalados em extintores, alarmes de fumaça e portas corta-fogo, por exemplo, informam ao time responsável pela segurança quanto ao status funcional destes equipamentos. Tudo em tempo real.
Todas estas medidas citadas anteriormente colaboram na redução real dos gastos operacionais, amplificam o desempenho e tornam estes edifícios mais eficientes energeticamente. A reboque, ajudam a diminuir a pegada de carbono dos hospitais.
Em resumo, a utilização de soluções em IoT/IoMT tem transformado o setor de saúde, melhorando substancialmente a qualidade dos serviços prestados aos pacientes e a capacidade gerencial dos gestores de clínicas e hospitais, mais aptos a tomar decisões e tornar os seus negócios mais competitivos.
Entretanto, todo este investimento em ecossistemas de IoT traz ainda um outro tipo de retorno: o de satisfação com a marca. A tecnologia que melhora a experiência do cliente, mantém a relação médico/paciente, reduz custos e traz conforto a amigos e familiares, é capaz também de transformar um momento tão sensível e, por vezes, fragilizado, em uma oportunidade para as empresas demonstrarem que se importam. Um gesto absolutamente humano suportado de zettabytes de dados.