Edge computing em alta na Europa

A transformação precipitada pelo Covid vai se consolidar. Não é só aquela questão de uma demanda extraordinária que depois volta para trás. Em paralelo, existe a perspectiva de crescimento de construção e modernização de data centers.

Edge computing em alta na Europa

A valorização da computação de borda tem crescido na indústria de TI europeia. Além de estratégico para o desenvolvimento de outras tecnologias, como o 5G, o edge computing se torna essencial em um momento de alta demanda por processar dados em alta velocidade.

“Esta é uma arquitetura de design de software e de estruturas lógicas especialmente pensadas e desenhadas para fazer um trabalho perto do consumidor que hoje tem – por conta dos games, streaming, e-commerce e home office – uma demanda de dados em casa comparável ao de uma empresa de médio ou grande porte há cinco ou sete anos”, comenta Carlos Morard, Diretor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da green4T, em entrevista ao jornalista Fabiano Mazzei neste episódio do podcast greenTALKS.

Direto de Madrid, o executivo falou também do debate realizado na edição espanhola do evento Data Center Dynamics, no mês passado, acerca da eficiência energética dos data centers, a entrada dos fundos de investimento no real estate da indústria de TI e sobre as metas de combate das mudanças climática para 2030, assunto central da próxima COP26-Glasgow, em novembro. Acompanhe.

Fabiano Mazzei: Olá seja muito bem-vindo, seja muito bem-vinda a mais um episódio do podcast greenTalks. Este conteúdo está disponível nos nossos canais no Spotify, no YouTube, nas nossas nas mídias sociais e também no nosso blog Insights.

O tema deste podcast é “Edge computing em alta na Europa”, onde vamos abordar os motivos dessa expectativa e a aposta da indústria de TI europeia na solução de computação de borda. Para comentar o assunto nós convidamos Carlos Morard, Diretor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da green4T. Ele conversa com a gente diretamente de Madrid, de onde ele cuida de toda a nossa atuação na Europa, Norte da África e Ásia.

Carlos, muito obrigado mais uma vez por aceitar o convite de estar aqui com a gente.

Carlos Morard: Obrigado à você, Fabiano, e a toda a comunidade que nos escuta. Estou falando quase em italiano porque dei uma aula neste idioma para a indústria de data center aqui na Europa – e espanhol você sabe que eu falo bem. E, para mim, é um prazer.

Fabiano: Muito bem, vamos lá conversar, então, entre esse espanhol, italiano e português, a gente começa primeiro, claro, comentando que você acabou de participar de um evento muito importante na Espanha que foi o Data Center Dynamics, na edição espanhola. Eu queria que você comentasse quais foram os grandes destaques desse encontro.

Carlos: Sim, realmente for um evento muito especial porque foi presencial e a sensação foi de soldados que voltaram da guerra para seus países: aí verificam quem estava vivo ou morto, quem não estava mais no business, mas felizmente a gente se encontrou com como se nenhuma das empresas e das pessoas tiveram um grande impacto por conta da Covid. E você sabe que o networking “olho no olho” é fundamental.

Os grandes pontos chaves do evento na minha no resumo é que a aceleração e a transformação da demanda precipitada pelo Covid vai se consolidar. Não é só aquela questão que tem uma demanda extraordinária que depois volta para trás. A segunda questão é que a perspectiva de crescimento de construção e modernização de data centers, por exemplo, aqui na Espanha é na faixa de 300 a 400 MW (de capacidade de processamento), o que significa mais do que foi feito nos últimos 15 anos – e pode até chegar a 600 megawatts.

E depois temos a novidade da entrada na indústria dos grandes fundos de investimento em real estate. Estão olhando a indústria como para entrar como fazem na construção de grandes prédios corporativos. Isso pode gerar alguma disrupção no ecossistema da indústria de data centers.

Depois tem muita preocupação na indústria pela dependência dos fornecedores de utilities e para facilitar a transformação orientada à eficiência energética e atingir os objetivos de combate das mudanças climática. E, por último, a necessidade fundamental de criar um treinamento de novos recursos humanos, que é um ponto de estresse para a evolução da indústria. Isso soma os cinco pontos que foram chaves nas grandes conversas de alto nível. Nos painéis, nas apresentações, por fora das apresentações de produtos e serviços dos fornecedores.

Fabiano: Carlos, pegando o gancho sobre eficiência energética – que é uma preocupação global –, o que você ouviu de mais interessante no debate nesse evento na Espanha?

Carlos: O mais interessante é que as grandes empresas hiperscale, que prestam serviços assim como as grandes corporações que têm o data center enterprise, com uma solução híbrida que demanda também serviços em nuvem, todas elas têm um objetivo para atingir as metas para 2030.

Não tem detalhes técnicos, porque talvez sejam confidenciais mas as áreas que trabalham a eficiência energética têm como como alvos, na primeira parte, fazer uma redução na perda de refrigeração e melhorar a arquitetura e a eficiência global do design e das equipes dos centros de dados, a eliminação gradual de líquidos refrigerantes que especialmente contribuem muito ao aquecimento global e a pesquisa para fazer uma transformação e a substituição de geradores a diesel por tecnologias de geração mais limpas.

Cada uma das empresas mostram objetivos diferentes. Uma delas, que é muito importante, já fez o que seria uma transformação na área da infra dos seus data centers, ou seja, a capa física. De 2018 até esse ano, eles atingiram uma redução de 90% no consumo de energia elétrica, usando fontes renováveis e não de energia não limpa.

Porém, tem muitas e muitas métricas interessantes. Para fazer mais, aqui na União Europeia criou-se o Climate Neutral Data Center Pact. É um entorno onde a indústria está convergindo para participar dessa caminhada para melhorar a eficiência energética. Agora, é muito importante que o data center – a capa física – é responsável por 70% do consumo total da infraestrutura de TI. Porém, os grande desafios estão em criar uma convergência entre o mundo de TI e a capa física para designs convergentes que possam melhorar o consumo total e a eficiência total da operação de TI.

Fabiano: É um desafio complexo. A gente fala da capa a física e também de toda a estrutura que envolve o data center. A questão da pegada de carbono foi muito debatida também nesse sentido? A Europa anda bastante preocupada com a redução da pegada de carbono da sua indústria?

Carlos: Sim, mas o que foi mais debatido aqui, Fabiano, nesse contexto não foi propriamente a questão das emissões de carbono. Mas como criar uma interação inteligente entre as políticas públicas e as ações das empresas para gerenciar uma transformação que seja uma transição onde o custo da transformação não represente um impacto tão grande sobre o consumidor final, que é o último elo na cadeia.

Aqui vimos que depois das grandes conversas sobre as mudanças climáticas, as necessidades de transformação e tudo isso, o que realmente está acontecendo hoje na Espanha é que você hoje paga 210 euros o MW, quando há um ano o custo era de 82 euros o mesmo MW. A questão é que a interação entre o privado e o público é como fazer uma transição para que. o custo não seja de alto impacto para o consumidor. E por conta disso tudo, foi anunciado no Data Center Dynamics aqui na Espanha a criação de uma associação da indústria de data center composta por cinco fundadores muito prestigiados que vai criar um entorno de conversa da indústria com o governo estadual, com os governos das comunidades e com os fóruns europeus para debater como a indústria de TI precisa de um marco de comunicação e de coordenação com as políticas públicas.

Sem isso, não pode se fazer, de fato, uma transformação com  eficiência apenas com os desejos e as boas intenções das empresas privadas.

Fabiano: Perfeito. Vamos falar de um outro tema então: edge computing. Qual é a tendência de uso da computação de borda das empresas europeias e por que isso é tão importante e está tão em alta? O que você pode contar para gente?

Carlos: A primeira questão é que o edge computing não é apenas uma questão de um data center na borda que faz um trabalho para descarregar a demanda dos data centers. É muito mais que isso!

É uma arquitetura de design de software e de estruturas lógicas especialmente pensadas e desenhadas para fazer um trabalho perto do consumidor que hoje tem – por conta dos games, streming, e-commerce e home office – uma demanda de dados em casa comparável ao de uma empresa de médio ou grande porte há cinco ou sete anos. Porém, não é apenas um data center que faz um trabalho complementar: é uma arquitetura pensada para prestar uma função específica. Além disso, tem – do lado de nossa empresa – uma questão que é muito importante: quando você faz uma análise do lugar para implantar um mega data center, realiza muitos estudos da localização, da gestão de riscos do entorno, circulação, conectividade, geração de energia e tudo isso.

Mas quando você vai a um datacenter pequeno, de borda, em uma área provavelmente vazia ou área urbana, talvez residencial, a gestão de riscos destes entornos não é uma decisão que você pode planejar, mas uma condição dada pelo próprio ambiente onde você precisa do data center. Por isso, é  muito importante que as nossas soluções históricas de data center modulares, com certificações para segurança física, agora tem uma entrada muito muito importante no futuro para gerenciar os diversos fatores de risco que você vai encontrar, além da questão do design. E o grande disparador disso será o 5G. Foi colocado aqui muito claro que o 5G será o acelerador do edge computing porque é uma plataforma de comunicação que, pela primeira vez, foi desenhada para comunicações corporativas. Ele viabiliza um monte de desings, de softwares e de plataformas que, até agora, operavam com certas limitações.

Fabiano: Muito bem. Você tocou num ponto muito interessante. Hoje, com todos esses fenômenos do game e do streaming – do próprio trabalho em home office que é uma condição que parece que veio para ficar na boa parte dos países –, o nível de demanda de dados por residência aumentou drasticamente e as empresas vão ter que realmente fornecer soluções que atendam a essa demanda por baixa latência e respostas rápidas. O IoT também entra nesse pacote de demandas em alta de atração da indústria europeia?

Carlos: Sim, entra, porque ele é transversal a toda a indústria. Mas acho que para não ser uma resposta muito óbvia, ouvi um destaque que é interessante colocar para o nosso podcast hoje, voltando à questão da eficiência energética, ouvi de Juan Romero Cosano, Diretor Operacional para a Iberoamérica da Equinix – que, como vocês, é um dos dois ou três mega players mundiais de data centers – algo muito inteligente e necessário: a necessidade de voltar a medir os dados dos parâmetros com qualidade. E aplicar estes dados de qualidade de toda infraestrutura, tanto física como de TI, e inteligência artificial para criar parâmetros mais confiáveis e dinâmicos da eficiência energética.

É o único caminho para realmente estabelecer um retorno do investimento que a gente tem de fazer nos data centers para  melhorar a eficiência energética. Então, acho que aí, a indústria de data center vai ter de olhar bem de perto como aplicar os velhos DCIM, todas ferramentas de automação e controle, e também a inteligência artificial, e olhar se os parâmetros e os dados que estamos coletando são completos, de boa qualidade, com gestão de câmbio e uma dinâmica que permite ter confiabilidade e ‘traceabilidade’ na evolução.

Fabiano: Perfeito. Voltando aqui ao tema da eficiência energética, que eu acho que é o grande tema do momento e isso coloca a indústria de TI na pauta da COP26, que vai acontecer agora e aí pertinho de você. Como é que você viu esse assunto dentro do evento?

Carlos: Olha, para ser honesto ninguém falou muito de COP26 propriamente, mas todo mundo falou da agenda 2030. Porém, é como escutar o que vai ser debatido na COP. Mas, para responder à sua pergunta, penso que voltando a minha colocação anterior a indústria exige uma interação com as autoridades públicas porque claramente os governos e as grandes organizações mundiais são quem vai nortear o diagnóstico do problema e a necessidade para minimizar o impacto dele.

Mas como minimizar, a gestão de como fazer isso, fica na mão da indústria, de cada uma das empresas em cada uma das áreas de criação de valor. Seja como fabricante de equipamentos, seja como empresa de engenharia e design, de prestação de serviços ou de fornecimento de comunicações.

Por isso, voltaria a falar da gestão da transição. Porque ao final do caminho, os investimentos têm que ser feitos pelo bolso do investidor privado e o ROI tem que ter um resultado que seja admissível para os acionistas ou para os investidores que levaram o mercado de ações para elas. Então, a minha esperança quando retornar de Glasgow ao final de novembro, é que além de todas as questões genéricas e gerais, a gente possa voltar com uma articulação clara de como fazer um trabalho a quatro mãos: os gestores públicos, as organizações e as empresas privadas que possam participar a quatro mãos  do desenho da transição para que isto seja viável para o consumidor final.

Fabiano: Muito bem, a conversa está muito boa, mas a gente está chegando ao final do nosso tempo. Eu gostaria de agradecer ao Carlos Morard, que é o nosso Diretor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais aqui na green4T. Mais uma vez, muito obrigado e, se você quiser, fique livre para suas considerações finais.

Carlos: A consideração final é agradecer a você e a todas as pessoas que seguem o nosso canal de podcast e ficar à disposição para entrar em mais detalhes do que foi colocado aqui muito genericamente através dos canais oficiais e as redes sociais que a nossa empresa tem. E voltando de Glasgow, da COP26, a gente pode fazer um novo bate-papo e compartilhar com os nossos clientes, amigos, colegas e a comunidade em geral o que a gente aprendeu e o que estamos planejando para a evolução da nossa empresa.

Fabiano: Muito bem, fica a dica interessante de fazer esse bate-papo na volta e com você e outros convidados. Eu espero que todos tenham gostado deste podcast. Curta e compartilhe este e outros conteúdos relevantes que nós postamos sobre tecnologia aqui no canal greenTALKS, no blog Insights, no YouTube e também em nossas mídias sociais. Muito obrigado e até o próximo episódio.