Tendências em tecnologia para 2023: o que já vingou, o que ficou pelo caminho e novas apostas

O surgimento de tecnologias de alto impacto, em ritmo cada vez mais acelerado, exige atualizações constantes sobre as transformações em curso no mercado

Tendências em tecnologia para 2023: o que já vingou, o que ficou pelo caminho e novas apostas

O surgimento acelerado de novas tecnologias de impacto tem  redefinido o mundo, impulsionado inovações e provocado mudanças sem precedentes. Em um cenário cada vez mais volátil, tendências surgem da noite para o dia e outras ficam pelo caminho. Por isso, validar pela observação e análise as expectativas esboçadas no início de 2023 é fundamental para ajustes finos na condução dos negócios e na priorização de investimentos para o segundo semestre do ano.

Pensando nisso, apresentamos a seguir uma lista atualizada com seis tendências para 2023, que inclui tanto tecnologias que se mantêm em alta quanto novas apostas que estão surgindo e devem moldar o presente, indicando opções para o futuro.

Inteligência artificial generativa

Uma das tendências para 2023 mais consolidadas, passados seis meses do ano, é o uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa. O ChatGPT, pioneiro, levou apenas dois meses para alcançar mais de 100 milhões de usuários. Como base de comparação, o TikTok, outro fenômeno, levou nove. Entre as apostas iniciais de especialistas como o inglês Andrew Busby, fundador da Retail Reflections, estava a de que a tecnologia seria aplicada de forma massiva na personalização do atendimento aos clientes. De fato, isso aconteceu. A Sephora, por exemplo, desenvolveu um assistente virtual que, a partir de um retrato, recomenda produtos aos clientes, elabora tutoriais de maquiagem personalizados e apresenta tendências em beleza. O eBay lançou um “ShopBot” que busca e indica produtos na plataforma a partir de uma conversa com o usuário. Mas, para além do comércio, a ferramenta tem sido usada também de formas menos óbvias, como tornar a comunicação entre médicos e pacientes, ou entre colegas de trabalho, mais empática; melhorar trilhas de aprendizado corporativo e desenvolver tokens, plataformas de negociação e soluções de segurança no universo das criptomoedas. É só o começo. Uma nova versão do ChatGPT, cem vezes mais potente, está sendo lançada agora.

Computação onipresente

O avanço do 5G – e de outras tecnologias de ponta que permitem maior conectividade sem fio -, associado à proliferação de dispositivos de Internet das Coisas (IoT), vem tornando a computação onipresente. De acordo com do relatório State of IoT, da IoT Analytics, publicado no primeiro semestre de 2023, o número global de dispositivos de IoT conectados cresceu 18%, em 2022, para 14,2 bilhões, e deve crescer pelo menos mais 16%, em 2023, alcançando os 16,7 bilhões. Eletrodomésticos, lâmpadas, roupas, carros, semáforos, câmeras, máquinas industriais. Cada vez mais, tudo que nos cerca está conectado à internet, em tempo integral, e gera dados que podem ser usados para compreender melhor o comportamento dos usuários, além de identificar vulnerabilidades e oportunidades de melhoria nos negócios. É o que está por trás de casas, prédios, cidades, lojas e fábricas inteligentes, e de novas formas de interação com o ambiente, mais intuitivas e imersivas. Hoje, em muitos casos, basta um gesto ou comando de voz para que as máquinas respondam. No futuro, a interação não dependerá nem disso. Implantes neurais e outros tipos de sensores serão usados para monitorar nossos desejos e necessidades, e responder automaticamente.

Tecnologias verdes

A questão energética tem ganhado destaque crescente na estratégia das empresas, seja pela pressão e a conscientização em relação à sustentabilidade, seja por razões econômicas. O número de edificações com a certificação LEED de sustentabilidade, a mais disseminada globalmente, cresce ao menos 20% ao ano, desde 2017. No ano passado, o número de projetos com o selo superou a marca de 100 mil, em todo o mundo. Com a expansão, só nos últimos três anos, foram economizados US$ 1,2 bilhão em energia, US$ 149,5 milhões em água e US$ 715,3 milhões em manutenção. Na comparação com edifícios construídos de forma convencional, a redução no volume de gases do efeito estufa foi de 50%. Neste ano, não é diferente, e um dos destaques é justamente a indústria de data centers. Inovações em sensores, robótica, IA, arquitetura, tecnologia da informação, infraestrutura de energia, gerenciamento do fluxo de ar e de aquecimento, ventilação e ar-condicionado (HVAC) permitiram que as empresas aumentassem o volume de dados processados em 550% usando praticamente a mesma quantidade de energia — cerca de 1% do consumo global. A essas inovações, estão se somando outras, como chips de computador mais eficientes e baterias à base de novos materiais, como o ferro, mais baratas, práticas e sustentáveis.


IA, low-code e no-code

O surgimento de plataformas de baixo código (low-code) e sem código (no-code) acelerou fortemente o processo de transformação digital e a adoção de processos baseados em IA nas empresas, nos últimos seis meses. As duas abordagens de desenvolvimento de software permitem que pessoas com pouca ou nenhuma habilidade em programação desenvolvam softwares e aplicativos a partir de blocos de códigos, com interfaces de fácil compreensão, compartilhados por programadores. O movimento é particularmente forte em atividades como o varejo e criação de sites. Mas tende a se espalhar por todas as indústrias. Com mais e mais trabalhadores aprendendo a trabalhar com plataformas de baixo código e sem código para potencializar suas habilidades profissionais, a expectativa é de que o mercado tenha uma taxa de crescimento anual composta de 26,1% ao ano e alcance os US$ 32 bilhões, ao final de 2024 – em 2022, foi de US$ 22,5 bilhões, segundo dados da Statista. Trata-se de um círculo virtuoso, na medida em que a inovação gerada por empresas que usam a nova tecnologia deve forçar as concorrentes a fazerem o mesmo para sobreviver.

Metaverso

Aplicações de realidade aumentada e realidade virtual seguem no radar das empresas. Mas estão sendo deixadas em segundo plano. O lançamento do Vision Pro, o óculos de realidade mista da Apple, controlado pelo olhar, anunciado como o início de uma era de “computação espacial”, reanimou por algumas semanas os entusiastas da tecnologia. Mas, pouco depois, a empresa reduziu as expectativas iniciais de produção, de cerca de 1 milhão de unidades, em 2024, para 400 mil, alegando problemas técnicos na fabricação. No mercado, além de questões relacionadas ao uso, muitos críticos apontaram o preço, na casa dos US$ 3,5 mil dólares, como uma forte barreira à popularização da tecnologia. Segundo o Gartner, que acaba de lançar um estudo baseado na análise de mais 170 projetos de metaverso e em entrevistas com 52 empresas do ramo, os problemas vão do fato de a experiência ser fisicamente desconfortável à questões de segurança e privacidade, além do custo. Por conta disso, nem mesmo a Geração Z, a mais ligada à tecnologia, estaria muito empolgada. A pesquisa revelou que 85% dos usuários enquadrados nesse perfil afirmaram não ter interesse em marcas que operam no metaverso, enquanto outros 43% sequer compreendem totalmente o que ele representa.


Computação quântica

Cientistas de uma das maiores companhias de tecnologia do mundo anunciaram em junho a descoberta de uma forma de lidar com a inconfiabilidade típica dos computadores quânticos. Isso significa, segundo um dos principais executivos da área na empresa, que a tecnologia acaba de entrar em sua “era da utilidade”. Ainda em sua infância, a computação quântica deve levar anos para chegar ao mercado de forma massiva. Questões como a difícil manutenção e a sensibilidade extrema a variações de temperatura são algumas das questões a serem resolvidas. Mas o avanço recente indica que as primeiras experiências científicas, industriais e militares estão próximas. O potencial é gigantesco. Capazes de realizar diversas tarefas simultaneamente, os computadores quânticos que existem hoje já são milhões de vezes mais rápidos que os supercomputadores tradicionais. Os chineses afirmam que desenvolveram um que é 100 trilhões de vezes mais rápido. Entre as aplicações possíveis, estão o desenvolvimento de novos materiais e compostos químicos, e a melhoria da IA em aplicações de ponta, como os carros autônomos. Projeções da Precedence Research apontam para um crescimento de 36,89% ao ano neste mercado, que deverá alcançar os US$ 125 bilhões anuais, em 2023 — no ano passado, foi de US$ 10,13 bilhões.

Diante de todas essas mudanças, tendências deixadas em segundo plano, novas apostas e tendências consolidadas, a única constante é a aceleração da transformação digital nos negócios, que irá exigir não só uma uma infraestrutura de TI mais robusta, mas também mais afinada e sustentável, para atender às demandas que estão surgindo e surgirão no futuro.