Transformação digital nas empresas – Episódio 35

Como e quando empregar a tecnologia para otimizar rotinas e potencializar o desempenho das companhias? Descubra no episódio a seguir do greenTALKS.

Transformação digital nas empresas – Episódio 35

A tecnologia tem contribuído diretamente para otimizar rotinas e melhorar a performance das empresas nesta era da economia digital. Entretanto, antes mesmo de se adotar estas ferramentas, é fundamental realizar uma avaliação criteriosa sobre como e em quais circunstâncias esta estratégia trará o resultado que a companhia espera e necessita.

“É preciso pesquisar, fazer benchmark, buscar informações, fazer uma análise de aderência, de gap, enfim, para poder utilizar a tecnologia a seu favor. Isso vale no aspecto técnico e pessoal também, dos funcionários, a fim de evitar a automação da ineficiência”, comenta Eden Paz, conselheiro e sócio da consultoria ConsulPaz, sediada em Porto Alegre (RS).

Na entrevista a seguir, ele faz um retrospecto da evolução do trabalho nas grandes empresas, sinaliza quais os cuidados os gestores empresariais devem observar antes de iniciar a jornada tecnológica da companhia, fala sobre o ESG e a necessidade de se adequar a essa agenda a título de sobrevivência no mercado global, e alerta para a necessidade de infraestruturas de TI robustas a fim de suportar toda essa transformação. Acompanhe.

Fabiano Mazzei – Olá, seja muito bem-vindo, seja muito bem-vinda a mais um episódio do podcast greenTALKS. Sou Fabiano Mazzei, jornalista para green4T  e lembro que você pode encontrar este conteúdo aqui no Spotify, no YouTube, em nosso blog Insights e também em todas as nossas mídias sociais.

A entrevista deste episódio vai falar sobre o impacto da transformação digital nas empresas do ponto de vista dos processos. Para comentar o assunto, convidamos Eden Paz, que é Conselheiro e Sócio da ConsulPaz que, por meio de uma plataforma de gestão de serviços empresariais, aplica soluções que vão desde o desenho e redesenho dos processos nas companhias à implementação de outros recursos que visam promover a transformação das organizações. Eden Paz, seja muito bem-vindo ao podcast greenTALKS.

Eden Paz – Olá, Fabiano, olá a todos que estão nos ouvindo, acompanhando mais este episódio do greenTALKS. Quero também agradecer a green4T pela oportunidade e pelo espaço, e dizer que espero de alguma forma poder trocar uma ideia com você e contribuir com um pouco de nossa experiência.

Fabiano – Muito bem. Vamos começar, então, na sua trajetória, você acompanhou processos de modernização do trabalho em grandes empresas do Brasil. Que análise histórica você faz sobre essa questão?

Eden Paz – Bom, vamos lá. Primeiro, acho relevante a gente dar uma passada pela evolução do processo de trabalho. Mas antes até de falar da evolução em si, permita eu me apresentar um pouco mais. Além de ser conselheiro e sócio da consultoria, eu tenho uma carreira já um tanto longeva. Vocês verão ao longo do bate-papo. Eu sou aquele analógico que teve que virar digital, sabe? E isso já traduz muito do que a gente está passando e tem vivenciado ao longo desses últimos anos.

Eu passei por experiências em diversos segmentos e empresas nacionais e multinacionais, de médio e grande porte. E acho importante dizer que, quando a gente analisa a história, fica claro e evidente que a modernização do trabalho, essa evolução, não começou agora. É um processo que vem acontecendo praticamente junto com a evolução humana e, na história mais recente, a partir do fim do século 17, com os primeiros motores a vapor.

Depois, a gente tem a Revolução Industrial como o grande período de desenvolvimento tecnológico que se inicia ali na Inglaterra, a partir da segunda metade do século 18. As grandes transformações, os processos de trabalho, de relações de trabalho que acabam acontecendo nesse período.

A partir do começo do século 19, a gente tem o desenvolvimento tecnológico. E aí, quando a gente fala de desenvolvimento tecnológico, os mais jovens talvez estranhem, mas ele se inicia com a criação das primeiras locomotivas, das estradas de ferro – que até hoje são utilizadas. Trazendo um pouco mais próximo da nossa realidade, no início da década de 1950, temos o início da terceira revolução industrial. Por incrível que pareça, nesse período já começamos a ter o desenvolvimento da biotecnologia.

Os computadores passam a fazer parte da nossa história e, mesmo sendo aqueles computadores gigantes, eles já começavam a transformar tudo o que era possível, dentro da capacidade de processamento existente à época, que acabou criando uma base daquilo que conhecemos hoje como Industria 4.0.

Ela tem características como a descentralização de controles de processo de produção, automação aliada à tecnologia que possibilita a conexão com diversos processos produtivos, com diversos devices, equipamentos, enfim, espalhados aí ao longo do mundo todo.

Posteriormente a isso, ainda falando um pouco de história e tentando trazer para a sua questão desse processo de modernização, em meados da década de 1990 inicia-se a consolidação da grande rede de computadores, o famoso “www”, que começou a ser estruturada décadas antes.

Surgiu a tecnologia do GPS e do próprio celular, que também nasce nesse período e posteriormente, óbvio, se transforma nos smartphones que utilizamos hoje. Com isso, vem a questão da velocidade de conexão, a integração de aparelhos e equipamentos, chegando até a internet das coisas. Então, todo esse processo vai convergindo para esse cenário atual de aceleração dos negócios.

Vemos o surgimento das startups, embora se formos pesquisar, vamos encontrar algumas empresas no famoso Vale do Silício dos anos 1950, nos Estados Unidos, que não eram conhecidas como, mas iniciavam esse processo de pequenos negócios que vão transformando o cenário ao redor. Hoje, isso não está restrito mais ao Vale do Silício.

Israel, China, alguns países da Europa, enfim, com todo esse contexto de evolução, da modernização do processo de trabalho. Nessa linha, se você me permite fazer uma analogia com o filme “Tempos Modernos” (1936), de Charles Chaplin, onde ele demonstrava que os processos produtivos seriam divididos, especializados, ilustrados por aquelas cenas caricatas dele apertando parafuso sequencialmente.

Um trabalho repetitivo, um esforço manual muito grande visto até os dias de hoje, pensando ainda na linha de produção, comparando o ser humano (Chaplin) com robôs de automação vistos nas linhas de montagem, com aqueles braços mecânicos e a computação para a integração de componentes e máquinas.

Isso ocorre no mundo privado, mas também no setor público. Quem teve a oportunidade de utilizar o portal e-gov, por exemplo, para fazer o seu imposto de renda, pode ter tomado um susto. Isso porque, quando se insere os dados no site, as informações fornecidas em anos anteriores já aparecem preenchidas na declaração atual. Ou seja, o que antes era feito manualmente ano a ano, hoje já encontra um processo automatizado. Então, tudo isso contextualiza esse processo de modernização no trabalho nas grandes empresas, que permitem a gente conviver hoje com toda essa tecnologia.

Fabiano – Excelente essa análise histórica, usar o exemplo do filme de Charles Chaplin foi precioso. Bem, vamos então olhar para o momento atual. E não tem como não falar de transformação digital, da aceleração digital no ambiente empresarial. Como é que você enxerga esse momento de fato?

Eden – É um momento de grandes e contínuas transformações. Nos últimos sete anos, me tornei um empreendedor e venho experimentando no dia a dia todas as facilidades promovidas pelas novas tecnologias. Aqui vale entender a importância das infraestruturas que sustentam as nossas tecnologias. Porque é muito fácil adotar uma série de tecnologias, mas se não houver essa infra adequada e o ambiente preparado, com redundância de sistemas, uma contingência, enfim, corre-se o risco de ficar sem a informação desejada ou a execução de um determinado serviço.

O momento atual exige uma constante evolução, adaptação e resiliência, porque as mudanças acontecem em todos os cenários, em todos os âmbitos e aspectos. Desde a vida pessoal, profissional, na interação com os clientes, no crescimento das empresas, no desenvolvimento do negócio.

E tudo acontece muito rápido. Há sete ou oito anos atrás, essa questão, por exemplo, de inteligência artificial ainda era só um desejo. Algo que, hoje, é muito presente e faz parte da maioria dos negócios para consultorias que se apoiam na tecnologia, por meio de diversas soluções e ferramentas essenciais para a gestão de projetos, a interação com os clientes, a criação de bases de comparação para análises mais criteriosas dos dados, permitindo tomadas de decisões mais assertivas a partir de cenários mais estruturados.

O que quero ressaltar é que, nos dias de hoje, não há como uma empresa não ser tecnológica. Ela pode fabricar calçados, produzir alimentos, atuar na construção civil ou ser uma prestadora de serviços: se não suportada por tecnologia, estará realmente fadada a se tornar obsoleta e a perder o seu espaço no mercado – mesmo para quem entrega produtos tangíveis.

Então, eu avalio o momento atual como realmente um grande desafio para as organizações. No sentido de encontrar dentre as soluções disponibilizadas no mercado, aquela de melhor aderência ao seu negócio. Que se adapte e promova uma visão fim-a-fim, end-to-end, da empresa. Isso é fundamental para que a transformação tecnológica seja também um sucesso.

Como diz um amigo e ex-conselheiro, não adianta automatizar a ineficiência. Você precisa pesquisar, fazer benchmark, buscar informações, fazer uma análise de aderência, de gap, enfim, para poder utilizar a tecnologia a seu favor. Isso vale no aspecto técnico e pessoal também, dos funcionários, porque são lados conectados. Toda empresa tecnológica depende de pessoas, seja para programar um robô ou um computador, então, a gente precisa investir no que o mercado chama de “lifelong learning”, a prática do aprendizado contínuo das equipes.

Empresas e pessoas não podem esperar que o poder público traga as soluções e ofereça essas capacitações para que a gente se prepare para este novo mundo. Não dá tempo! O governo também está aprendendo com isso, tem enormes desafios, então, as pessoas têm que buscar esse desenvolvimento e esse aprendizado contínuo para poder acompanhar este processo acelerado, evolutivo de transformação digital nas empresas.

Fabiano – A próxima pergunta que é exatamente como é que a tecnologia contribui para esse processo de melhoria contínua e inovação contínua nas empresas, que, aliás, é um argumento que você utiliza com propriedade. Como é que você avalia isso também?

Eden – Bom, é importante lembrar que inovar não é só descobrir a lâmpada: inovar é trazer novidades para um processo que você já tem e fazê-lo de uma forma diferente, buscando um resultado melhor. É recriar e renovar e reinventar.

Para nós, a inovação, em alguns casos, é sinônimo de mudança, como melhoria de algo que já existe. Não precisa ser puramente novo. É importante dizer isso para não cair no conceito de que é somente algo disruptivo.

Após essa introdução, a gente começa a perguntar quem seria o inovador na empresa, que poderia fazer algo de uma forma diferente? A resposta é todos os colaboradores. Quando a gente fala da melhoria contínua é por conta disso. Ela nasce voltada para capacitar as pessoas visando alcançar uma excelência nos processos e na forma como são realizados.

Como fazer para integrar isso à rotina da empresa e criar um diferencial competitivo? Primeiro passo é implantar uma estratégia preferencialmente interativa, convidando as pessoas a sugerir melhorias nos processos, produtos e serviços. Depois, entender quais as tecnologias podem ser implementadas para este aprimoramento contínuo.

A soma destes dois passos é importante para possibilitar tirar o melhor deste modelo. Para estabelecer essa cultura de inovação, de melhoria continuada, nós precisamos ter um processo bem estruturado, para que os resultados sejam efetivos e as mudanças não sejam feitas ao acaso.

Através deste processo, capturando junto a inputs das experiências dos usuários, se estabelece a cultura da inovação. Use a experiência das pesquisas de satisfação, de avaliação das pesquisas, de aplicação dos teus produtos e de tudo isso para você ter o input, ou seja, desenvolver uma plataforma colaborativa que serve de entrada de insights para que, de forma estruturada, possa capturar tudo isso, avaliar, transformar e gerar valor para a sua companhia, justamente porque você tem um processo estruturado de inovação e melhoria contínua.

Fabiano – Perfeito. Pegando esse gancho, como analisa a interação entre inovação, tecnologia, ferramentas digitais, processos e a agenda ESG no ambiente das empresas?

Eden – Empresas e ESG, apesar de parecer modismo, vem de um bom tempo. Se não estou enganado, no início da década de 2000, em 2004, quando o Pacto Global (ONU) começa a fazer referência sobre o tema de uma forma ainda menos estruturada. Traduzindo, ESG significa Environment, Social and Governance. Nós estamos falando de como que a empresa trabalha com o meio ambiente, com a sociedade e como eu faço a governança.

As companhias precisam atender a estes requisitos até por uma questão de continuidade, de sobrevivência, de sustentabilidade do todo. Não adianta ser extremamente lucrativa, mas destruir o meio ambiente, porque isso tem um fim, um impacto. E, hoje em dia, se espera que a humanidade tenha esta consciência. Apesar da gente ver tantos exemplos ao contrário por parte de grandes nações. Muitas ainda estão longe de liderar com essa integridade e consciência toda, embora este seja o objetivo.

Quanto a tua pergunta, primeiro que hoje, com a quantidade de dados e de informações que você consegue capturar, que te permitem fazer análises mais assertivas do ambiente e da sociedade – sobre questões como inclusão e diversidade que colaboram com a governança, e sobre a gestão dos recursos financeiros e tecnológicos.

Esta capacidade que as ferramentas tecnológicas oferecem, não apenas quanto ao ESG, habilitam a empresa a trabalhar melhor com os seus recursos mais escassos, como o tempo, levando a um gerenciamento inteligente. Isso se reflete na preservação do todo que, talvez, seja o grande propósito do grupo de pessoas no Pacto Global, quando começaram a discutir esses fatores que impactam na sociedade.

Então, na minha visão, o ESG também é mais viável e mais possível hoje porque temos tecnologia suficiente para não só medir e controlar, mas para, de fato, ajudar a melhorar e reduzir os impactos que eventualmente alguns produtos e serviços, enfim, possam causar na sociedade.

Fabiano – Outra análise que a gente gostaria de ouvir de você é sobre quais precauções o administrador ou gestor da empresa deve considerar antes de aportar tecnologia nas áreas e processos do seu negócio. Achei ótima a frase sobre a automação da ineficiência. Como evitar isso?

Eden – Mas ela não é minha! É de um conselheiro e amigo pessoal, um baita profissional, o Inácio Fried. Ele comentou isso comigo há alguns anos, merece os méritos. Não sei se é dele, mas foi dele que eu ouvi.

Fabiano – Vamos deixar para ele essa autoria. Mas o fato é que a gente precisa entender que tipo de cuidados o administrador deve considerar antes de iniciar essa jornada de transformação tecnológica. O que você tem a dizer sobre isso?

Eden – Muitas vezes me perguntam se eu preciso organizar os meus processos, mapeá-los, ter a minha estrutura bem organizada e estruturada, robusta, para mergulhar neste mundo da inovação. Bem, existem vários cenários.

No caso de uma startup que está começando, que não tem nada assim, que vai na tentativa, erro, aprendizado, buscando conhecimento daqui e dali, não tem as coisas “estruturadas” ainda, há uma permissão maior, vamos dizer assim, para para não se organizar, não se estruturar e avançar.

Mas passada esta fase de startup, eu entendo que todo e qualquer negócio precisa ter muito claro primeiro o que quer entregar. Qual é a sua? O seu propósito? Segundo, é entender a complexidade. E para isso, não significa que eu tenho que criar estruturas gigantescas, que eu tenho que ter milhões de políticas, de procedimentos, enfim, mas significa que a gente deveria ter muito claro o que eu pretendo entregar.

Qual a relação entre as áreas que estão dentro do negócio e quais os custos envolvidos? Quais as tecnologias utilizadas? Quais os serviços que eu entrego? Quais as conexões existentes entre eles? Porque se eu parto de um modelo simplista, não considerando todas essas variáveis, sem entender a importância e o impacto que o meu negócio vai gerar dentro do conceito do ESG, se eu não considero e não estou aprendendo continuamente também, conforme comentamos, enfim, se eu não consigo o que eu chamo de “juntar as pontas”, talvez eu não consiga fazer uma aplicação de tecnologias ou de soluções que me tragam resultados com valor adicional.

Não é simplesmente automatizar o cara-crachá sem avaliar se eu precisava fazer isso. Se eu não entendo a relação que tem em realizar determinada atividade e quais os principais passos ou os passos críticos que eu não posso errar neste processo, enfim, se eu não consigo fazer a junção de tudo isso, a chance de erro, de desvio e, principalmente, a chance de custos mais elevados são sempre presentes.

Olhando para uma automação de forma grosseira: vou automatizar um processo qualquer e ele tem 50-100 etapas, não importa. Mas ele tem hoje todas essas etapas porque ele não tem um sistema tecnológico por trás. Precisa de três, quatro assinaturas, impressão, baixar arquivos, calcular em Excel, para funcionar. Agora, se eu repito tudo isso simplesmente fazendo essa automação, sem tornar o processo mais rápido do que se fosse feito uma pessoa, não faz sentido. Claro que eventualmente há uma redução de falha humana, é possível.

Mas o ganho real ao revisitar este processo seria eliminar tudo o que é desnecessário. Ao invés de uma programação com 50-100 passos, eu programo com 20, dando rastreabilidade, com o controle que vai me dar o compliance necessário, que vai me assegurar que tudo foi feito da melhor forma, no menor prazo, inclusive de otimização de sistemas.

Aqui entra o que falamos no início, sobre contar com uma infraestrutura de TI robusta o suficiente para poder suportar toda essa tecnologia. Se for pensar, a quantidade de terabytes de dados gerado no mundo é algo inacreditável. E a gente está vendo também a dificuldade, mesmo de grandes empresas, de garantir a integridade, a preservação desses dados da melhor forma possível. Então, quanto mais robusta e inteligente for a infraestrutura, melhor.

Por fim, quanto mais eu conseguir juntar essas pontas, seguramente eu vou gerar melhores resultados. Eu vou conseguir responder o porquê preciso organizar minha casa, de ter os meus processos eficientes, de ter uma infraestrutura robusta, de ter os dados realmente otimizados para também pesar menos no meu mundo virtual. Porque me lembro quando ficava organizando aquelas caixas no arquivo morto e ainda tem muito disso. Se comete muitos erros grosseiros às vezes, como digitalizar coisa que não precisa nem ter mais no papel. Então, devemos nos perguntar por que eu devo pensar antes de usar simplesmente a tecnologia? Por que que eu devo olhar os meus processos? Por que eu devo otimizar? Por que eu devo enxugar? Por que eu devo avaliar se eu preciso daquilo? A resposta é porque, caso contrário, ao invés de construir um monstro físico, construirão um monstro digital.

Fabiano – Além de trazer muito mais assertividade aos investimentos.

Eden – Não tenha dúvida!

Fabiano – Para finalizar, a gente falou do passado, do momento atual e, agora, gostaria de te pedir uma avaliação do futuro. O que é essa empresa do futuro, do ponto de vista de processos ancorados e  suportados por tecnologia?

Eden – Então, se eu tivesse essa resposta 100%, ela seria bem cara, viu?

Fabiano – Então, não vamos dar ela de graça.

Eden – Mas assim, o que que eu acredito como será a empresa futuro. Eu até recentemente escrevi um artigo onde eu digo que eu acredito que dentro daquele ciclo de evolução do trabalho está com os dias contados. O que eu quero dizer com isso?

Toda essa atividade que eu até brinquei do cara-crachá, lançamento de nota, enfim, uma série de atividades tipo Charlie Chaplin lá em 1936 – e nós estamos quase 100 anos depois, em 2022 – falando do backoffice administrativo, eu o vejo muito próximo do fim. Assim como o exemplo do Imposto de Renda que, com um clique, o governo baixa ali todas as informações para você.

Ele vai acontecer e já está acontecendo para muitas organizações. Então, a empresa que eu vejo do futuro, do ponto de vista tecnológico, vão cada vez mais deixar de ter essas atividades administrativas operacionais transacionais, sendo substituídas por tecnologia.

Nós vamos precisar de um perfil realmente diferenciado em relação aos profissionais que vão passar a atuar nesse modelo, porque são pessoas que vão precisar aprender a trabalhar com dados, a fazer análises futuras, comparativas e não simplesmente processar informações.

Então, olhando para um futuro mais próximo, eu imagino que isso tudo será muito rapidamente substituído. Se a gente parar para pensar, vai acabar essa ou aquela profissão, assim como já acabaram outras, basta olhar a evolução do trabalho de forma histórica. A gente já passou por isso, a diferença é que agora é muito mais acelerado. Isso impacta de alguma forma porque nem a sociedade, o governo e as empresas estão preparados para capacitar – e mesmo as pessoas não estão capacitadas – para acompanhar esta velocidade.

Então, nós temos um grande desafio para essa empresa do futuro na questão das pessoas, ou seja, como é que nós vamos mudar esse referencial e essa condição para que elas possam operar com todas essas tecnologias. A gente tem aquele conceito do profissional T-Shaped, que é aquele com uma visão generalista e uma vertical muito especialista, ou uma visão generalista e duas verticais especialistas, mas com a quantidade de informações que a gente tem hoje, é muito difícil.

Nós temos aí uma série de facilitadores que que vão ajudar nesse processo de transformação dessas empresas do futuro – que não é tão longe, o futuro é bem próximo. A gente tem tido cada vez mais uma diversidade cultural, intelectual, regional, enfim, de todos os possíveis ângulos de diversidade que acabam construindo uma visão e uma inclusão de elementos e de possibilidades que ajudam no desenvolvimento das pessoas para este desafio que é acompanhar essas tecnologias todas. Já temos situações de robô desenvolvendo soluções, apesar de ainda muito poucas, mas isso já existe. E temos um desafio muito grande para conseguir acompanhar tudo isso e, ainda, pensar no coletivo.

Então, hoje, eu vejo que não tem como uma empresa sustentável não ter tecnologia. Ou seja, se você não for tecnológico, não sobrevive. É preciso adaptar as pessoas, processos, controles e, por consequência, os teus produtos, serviços e toda a tua cadeia para esta nova realidade, mas de forma acelerada.

Juntando as pontas, é importante conseguir ter muito claro e usar da melhoria e da inovação contínua, dos conceitos ESG, do desenvolvimento e aprendizado contínuo das pessoas porque, sem todos esses elementos, eu entendo que vai ser difícil a empresa continuar sustentável. Neste novo conceito de que toda a empresa é tecnológica, mesmo que ela produza carro, calçado, que seja uma empresa de agronegócio – e cada vez mais o agronegócio está tecnológico, com ferramentas aí que aumentam exponencialmente a possibilidade de produção por hectare.

Falando de futuro, não é nenhuma questão de idealizar, é como eu acredito mesmo, que muito rápido estaremos com estas características em um mercado também muito mais esclarecido, que vai comparar o tempo todo, que vai analisar as informações que estão disponíveis. Então, é um pouco disso que eu vejo.

E fazendo um gancho com a green4T, para que toda essa tecnologia funcione, não tenho dúvida que é fundamental ter uma solução robusta de tecnologia, de infraestrutura para sustentar toda essa digitalização que está vindo diariamente com o objetivo de ajudar as empresas. Este é um mar de soluções onde é fundamental escolher muito bem, como eu disse, olhando os gaps, a aderência, ver custo-benefício, entender as necessidades do negócio para poder tomar uma decisão correta. O grande desafio, portanto, é ter uma infraestrutura de TI adequada para suportar tudo isso.

Fabiano – Muito bem, poderíamos ficar aqui mais uma hora conversando, mas eu preciso encerrar este podcast. A gente conversou com o Eden Paz, conselheiro e sócio da consultoria ConsulPaz, sobre o Impacto da transformação digital nas empresas, com esse foco específico sobre os processos. Eden, muito obrigado por compartilhar os seus conhecimentos aqui conosco e espero que você volte mais vezes ao podcast.

Eden – Fabiano, fico à disposição. Como eu disse no início, espero ter contribuído um pouco com a visão e com a experiência. E conte comigo, estou à disposição. Um abraço a todos.

Fabiano – Muito obrigado. Se você gostou deste conteúdo, por favor, curta e compartilhe em suas redes sociais. E também veja outros conteúdos relevantes sobre tecnologia que postamos em nosso blog Insights, no YouTube, em nossas mídias sociais e aqui também, claro, no Spotify. Muito obrigado a todos por ficarem com a gente até agora e até a próxima.